Eneida - Cap. 1: A Queda de Tróia Pág. 9 / 235

Já no limiar da porta, pronto para sair, encontrai Panto, filho de Otrias e sacerdote de Apolo e da cidade, carregando o objectos do culto e as imagens dos deuses domésticos e seguido pelo netinho. Dirigiu-lhe então várias perguntas e o velho, apavorado e trémulo. respondeu-lhe:

—Chegou o dia fatídico para Tróia. Eis o seu fim e o fim da grande gló ria dos troianos. Júpiter já não nos favorece e só tem olhos para a Grécia cujos filhos dominam agora a nossa cidade incendiado. Cem homen armados saíram do bojo do grande cavalo de madeira e Sináo, o mentiro so, zomba de nós e ateia fogo às nossas casas, enquanto os navios gregos de regresso de Ténedos, despejam às nossas portas e nas nossas ruas milha rãs de guerreiros. Tenta-se uma débil resistência, mas tudo é inútil.

Ouvindo tais palavras e cego de raiva, Eneias lançou-se a correr na direcção donde lhe pareceu ser maior o fragor da luta. A ele se juntaram Ripeu Épito, Hípanus, Dimante, Corebo, filho de Mídgon — jovem que vier a Tróia trazido por um exaltado amor a Cassandra, a fim de emprestar o seu auxilio e apoio ao futuro sogro —, e muitos outros que ali vinham ter, guiados pelo claro luar.

Falou-lhes, então, Eneias:

— Ó jovens de coração valoroso, se tendes realmente uma vontade firme de me acompanhar nesta empreitada final a que me lanço, pensai primeiro nas nossas possibilidades. Todos os deuses, cujo favor sustentava este reino, se retiraram e estão agora do lado do inimigo. Ireis lutar por uma cidade incendiado, mas, se assim o quereis, corramos para a batalha e nela pereçamos. Os vencidos têm uma única salvação, que é a de não esperar salvação alguma.

Elevados assim os animas daqueles jovens, partiram quais lobos rapaces que, aguilhoados pela fome, perambulam à noite, enquanto os filhotes, de fauces abertas, os esperam no covil. Avançavam para o meio das lanças inimigas, para a morte certa, na direcção do centro da cidade. Envolvia-os a noite escura. Quem, no futuro, poderia narrar as desgraças, o sofrimento e a triste sorte daquela cidade, outrora dominadora e poderosa e que agora caía por terra? Por toda a parte se viam corpos estendidos, nas ruas, nas casas, nos altares.





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