Rochedo, que descansas
No promontório nu e solitário,
Como atalaia que o oceano explora,
Alheio às mil mudanças
Que o mundo agitam turbulento e vário,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.
Sobros, robles frondentes,
Cuja sombra procura o viandante,
Fugindo ao Sol a prumo que o devora,
Nesses dias ardentes
Em que o Leão nos céus passa radiante,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.
Ó mato variado,
De rosmaninho e murta entretecido,
De cujos ténues flores se evapora
Aroma delicado,
Quando és por leve aragem sacudido,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.
Ó mar, que vais quebrando
Rolo após rolo pela praia fria,
E fremes som de paz consoladora,
Dormente murmurando
Na caverna marítima sombria,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.
Ó Lua silenciosa,
Que em perpétuo volver, seguindo a Terra,
Esparzes tua luz ameigadora
Pela serra formosa,
E pelos lagos que em seu seio encerra,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.