Viagens na minha terra - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 39 / 41

«Poeta em Anos de Prosa» é um desses.

Eu não leio nenhuma das raras coisas que hoje se escrevem verdadeiramente belas, isto é, simples, verdadeiras, e por consequência sublimes, que não exclame com sincero pesadume cá de dentro: «Poeta em Anos de Prosa»!

Pois este é século para poetas? Ou temos nós poetas para este século?...

Temos sim, eu conheço três: Bonaparte, Sílvio Pélico e o Barão de Rothschild.

O primeiro fez a sua Ilíada com a espada, o segundo com a paciência, o último com o dinheiro.

São os três agentes, as três entidades, as três divindades da época.

Ou cortar com Bonaparte, ou comprar com Rothschild, ou sofrer e ter paciência com Sílvio Pélico.

Todo o que fizer doutra poesia — e doutra prosa também — é tolo...

Vieram-me estas mui judiciosas reflexões a propósito do capítulo antecedente desta minha obra-prima; e lancei-as aqui para instrução e edificação do leitor benévolo.

Acabei com elas quando chegámos à ponte da Asseca.

Esquecia-me dizer que daqueles três grandes poetas só um está traduzido em português — o Rothschild: não é literal a tradução, agalegou-se e ficou muito suja de erros de imprensa, mas como não há outra...

Ora donde veio este nome da Asseca? Algures aqui perto deve de haver sítio, lugar ou coisa que o valha, com o nome de Meca; e daí talvez o admirável rifão português que ainda não foi bem examinado como devia ser, e que decerto encerra algum grande ditame de moral primitiva: «andou por Seca (Asseca?) e Meca e olivais de Santarém» — Os tais olivais ficam logo adiante. É uma etimologia como qualquer outra.

A ponte da Asseca corta uma várzea imensa que há-de ser um vasto paul de Inverno: ainda agora está a dessangrar-se em água por toda a parte.

É notável na história moderna este sítio. Aqui num recontro com os nossos, foi Junot gravemente ferido, ferido na cara. «Il ne sera plus beau garçon», disse o parlamentário francês que veio, depois da acção, tratar, creio eu, de troca de prisioneiros ou de coisa semelhante. Mas enganou-se o parlamentário; Junot ainda ficou muito guapo e gentil-homem depois disso.





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