- Nada sei de todo.
- Um velho, uma moça e uma menina, não é o que disseste?
- Tal e qual.
- Um velho alto e cheio de corpo...
- Isso mesmo.
- A menina é morena e terá dez ou onze anos. A moça é clara, bem feita, olhos grandes, cabelos castanhos...
- Justamente!... pelo que vejo, são seus conhecidos?...
- Parece-me que sim.
- Um velho, uma moça, uma menina! - refletiu consigo Elias, e com estes sinais! não podem ser outros. O Major estava em vésperas de completa ruína!... infeliz família!...
- E não tiveste ocasião, - continuou Elias, - de ouvir o nome de alguma das pessoas da família!...
- Acho que sim... espere... Ah! agora me lembro... ouvi o velho chamar lá de dentro a moça pelo nome de... de... Lúcia.
- Lúcia!... que nome divino acabas de pronunciar, minha boa velha! são eles mesmos! é ela!... ah! desventurada Lúcia! e mais desventurado de mim, que não posso valer-te!...
- Estou vendo que essa moça é o anjo de que Vmcê. Há pouco falava?...
- É, minha velha, é ela mesma. E dirás ainda que os anjos não andam cá pela terra?...
Elias não teve mais sossego, e levantou-se imediatamente. Só a ideia de que ali tão perto dele achava-se Lúcia, dava-lhe vigor e alma nova. Era impetuoso, irresistível o desejo de vê-la; mas ao mesmo tempo a lembrança da pobreza, em que ia encontra-la, o contristava e enchia-lhe de amargura o coração. Vieram-lhe ao espírito todos os tristes transes de sua vida passada, e refletiu amargamente sobre os cruéis e estranhos caprichos da sorte. Ele, que outrora fora quase que despedido da casa do Major, e considerado indigno de pôr os olhos em sua filha, ele que há poucos dias fora tratado desabrida e brutalmente em casa do mesmo Major por amor de um infame aventureiro, ele o via esse mesmo Major, a seu lado, tanto ou mais miserável do que ele próprio.