Falando assim, porém, o nosso negociante nem por isso estava desanimado, nem abandonava o campo. Sabia que o rapaz não era do lugar, e tinha de ir-se embora. Mesmo que não fosse, estava firmemente convencido de que o Major, homem de fortuna, jamais se resolveria a dar sua filha a um pobre diabo, que não tinha onde cair morto, só porque sabia correr cavalhadas. Assim pensava, e guardava-se para melhores tempos.
Elias, que viera de Uberaba expressamente para tomar parte nas cavalhadas, - pois tinha bem merecida nomeada de bom cavaleiro por todos aqueles sertões – Elias viera recomendado ao Major por pessoas importantes daquela localidade, e portanto a sua assiduidade em casa deste tinha explicação muito natural, e o Major estava longe de presumir que o moço tivesse a veleidade de pôr os olhos apaixonados em sua filha. Estulto e cego, que pensava que o amor calcula as dificuldades e mede as distâncias das posições, e que não via que aquelas duas criaturas eram próprias para se inspirarem mútuo e ardente amor! Mas, ai deles! aproximava-se o tempo de se separarem, e esta lembrança os enchia de angústia e melancolia. Viram-se, amaram-se e sabiam que eram amados; mas nunca, por uma palavra que fosse, tinham confessado um ao outro aquele sentimento, e agora iam separar-se sem um adeus, um aperto de mão, um protesto, que os confortasse naquela longa, e quem sabe se eterna separação.
Elias andava excogitando um meio de despedir-se de Lúcia e protestar-lhe seu eterno amor, quando o Major o veio tirar desse embaraço e encher da mais viva alegria. O Major tomara simpatia e afeição pelo jovem uberabense, e, como lhe era recomendado por pessoas a quem não podia deixar de servir, o convidou para sua fazenda, onde, dizia o Major, teria muito em que emprega-lo, até que pudesse procurar melhor arranjo.