- Não tem direito a dizer tal. Sabia eu por acaso do estado dos seus negócios quando lhe pedi a filha em casamento? e entretanto, desde que aqui cheguei, aspirei a ser seu genro. E há nada mais natural do que o genro socorrer ao sogro, ou o sogro ao genro? Sois demasiadamente escrupuloso, senhor major.
- Pode ser; mas...
- Mas... nem falemos mais nisso, caro Major; são horas de nos divertirmos.
Algumas pessoas, que chegaram e vieram cumprimentar o Major, acabaram de pôr termo àquela conversação.
Leonel foi sentar-se ao pé de Lúcia, que já tinha voltado à sala. A coitada parecia que estava assentada em uma cadeira de ferro em brasa. Seu olhar era incerto, mudava de cor a cada momento, mal respondia às perguntas que Leonel lhe dirigia, e às vezes parecia querer levantar-se bruscamente, e deitar-se a correr pela casa a dentro. Mas aos olhos de Leonel tudo isto tinha uma explicação, aliás plausível para quem não conhecia o estado do coração de Lúcia. Era o acanhamento que resulta da emoção que sente toda a moça ao ver perto de si um homem apenas conhecido, e que tem de ser seu marido.
O Major por sua parte, pouco conversava, e andava pensativo, ocupado em refletir nos meios que empregaria em um novo assalto que projetava dirigir contra o coração da filha, para reduzi-la a dar o sim. Agora, que nesse casamento via também a reabilitação da sua fortuna, é fácil conceber com que novo ardor e encarniçamento estava disposto a ataca-la.
Lúcia, por sua parte, só esperava com a maior impaciência pelo momento de recolher-se para dar livre curso a seus pensamentos e a suas lágrimas.