Enfim, em menos de um ano, achou-se possuidor de uma soma de 50 contos, o que, no sertão, já se pode chamar uma fortuna. Mas o seu bom protetor, que era ao mesmo tempo seu comissário oficioso para a venda das pedras na Bahia, era também o seu banqueiro e o depositário de seus valores. Tanta generosidade o confundia, o enchia de gratidão e não lhe permitia duvidar um só instante da boa fé e probidade de tal homem. Manifestando-lhe ultimamente o desígnio que formara de voltar ao seu país natal, notou, não sem estranheza, que nenhuma objeção lhe opôs, contentando-se apenas em manifestar o pesar que sentia pela falta que lhe ia fazer, dizia ele, um tão bom e prestimoso amigo. A Elias pouco importava que ele aprovasse ou não o seu desígnio; sua resolução era inabalável. Mas não podendo deixar sem pesar o generoso protetor quem tudo devia, esperava encontrar também da sua parte alguma relutância em deixá-lo partir, e alguma luta de sentimentos. Agora infelizmente caiu o véu ao mistério, e compreendia o motivo infame daquele procedimento. Toda aquela liberalidade e generosa proteção que lhe dispensava, era o laço execrando, que lhe estava armando. Tendo de retirar-se, o seu amigo e protetor contou-lhe todo o dinheiro seu, que tinha em seu poder, perto de 50 contos, tudo em notas daquele valor e padrão, que seu hóspede acabava de ver! E assim acabava ele de atravessar cheio de contentamento e de esperança duzentas léguas de sertão, cuidando trazer na algibeira a fortuna e a felicidade, quando não trazia mais do que um maço de papel sujo.
- Agora, concluiu tristemente o moço, veja lá se é ou não para desesperar esta minha situação!
- É triste na verdade, mas não ainda para desesperar. O senhor é ainda muito moço e com a atividade