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Capítulo 20: Capítulo 20

Página 131

Não me peças que aceite dez anos de prisão. Tu não sabes o que é a liberdade cativa dez anos! Não compreendes a tortura dos meus vinte meses. A voz única que tenho ouvido é a da mulher piedosa que me esmola o pão de cada dia, e a do aguazil que veio dar-me a sarcástica boa nova de uma graça real, que me comuta o morrer instantâneo da forca pelas agonias de dez anos de cárcere.

Salva-te, se podes, Teresa. Renuncia ao prestígio dum grande desgraçado. Se teu pai te chama, vai. Se tem de renascer para ti uma aurora de paz, vive para a felicidade desse dia. E, senão, morre, Teresa, que a felicidade é a morte, é o desfazerem-se em pó as fibras laceradas pela dor, é o esquecimento que salva das injúrias a memória dos padecentes».

As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turbação do infeliz, foram estas: «Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino… Perdi-te… Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te. Se podes, vive; não te peço que morras, Simão; quero que vivas para me chorares. Consolar-te-á o meu espírito… Estou tranquila… Vejo a aurora da paz… Adeus até ao Céu, Simão.»

Seguiram-se a esta carta muitos dias de terrível taciturnidade. Simão Botelho não respondia às perguntas de Mariana. Di-lo-íeis arroubado nas voluptuosas angústias do seu próprio aniquilamento. A criatura posta por Deus ao lado daqueles dezoito anos tão atribulados chorava; mas as lágrimas, se Simão as via, tiravam-no da mudez sossegada para ímpetos de aflição, que afinal o extenuavam.

Decorreram seis meses ainda.

E Teresa vivia, dizendo às suas consternadas companheiras que sabia ao certo o dia do seu trespasse.

Duas primaveras vira Simão Botelho pelas grades do seu cárcere. A terceira já enflorava as hortas, e esverdeava as florestas do Candal.

Era em Março de 1807.

No dia 10 desse mês, recebeu o condenado intimação para sair na primeira embarcação que levantava âncora do Douro para a Índia. Nesse tempo vinham aqui os navios buscar os degredados, e recebiam em Lisboa os que tinham igual destino.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 131

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139