O casamento dela foi tal qual como o teu. Soube- o na véspera do dia, como tu, e eu resolvi-me, de à noite para pela manhã, porque ela virtuosa, trabalhadeira e pura como as estrelas do Céu. Aí tens o teu noivo, Tomásia. Bebamos à saúde do nosso Silvestre!
Saíram do armário sete canecas de louça da Índia com que as saúdes se fizeram.
- São as mesmas que serviram há trinta e dois anos em casa do meu sogro - disse o sargento-mor.
Eu fiz um brinde em termos chãos à minha nova família.
Durante o almoço, Tomásia nunca me esperou um olhar.
Findo o almoço, perguntei por ela para despedir-me, e soube que estava na igreja.
Esperei-a. Entretanto, padre João entregou-me a certidão de idade da sobrinha e pediu-me que no mais breve termo lhe arremetesse a minha para se lerem os banhos.
Voltou Tomásia acelerada porque a foram chamar. Logo que pôde falar-me a sós, tirou do peito um embrulho e deu-mo, pedindo-me que lançasse ao pescoço o que ia dentro do lenço. Despedi-me e abracei-a. Tomásia não quis que outra pessoa me segurasse o estribo quando eu montava.
- Já pensa dele como de coisa sua! - disse o velho a rir, e os padres riram todos.
Depois tornou ela dentro à c asa, mandando-me que esperasse um pouquinho, e veio logo com um pequenino alforge.
- É para o caminho - disse ela, atando-os às fivelas da sela.
Dei o último adeus, e Tomásia subiu ao topo de um outeiro donde se avistava grande espaço de estrada, e ali estava acenando-me até que me sumi numa baixa de serra.
Abri o embrulho: era um Agnus-Dei, encastoado em prata. O lenço que o envolvia tinha no centro um coração com muitos aleijões, atravessado por uma flecha que a caprichosa bordadeira deixava ver em todo o seu comprimento, de modo que parecia uma seta grudada ao coração.