Tencionava, no terceiro, dar o horóscopo da mafaldada, em resultado da vitória alcançada por Lúcifer sobre o anjo-custódio. Era uma coisa de muito trabalho e engenho.
Fora meu intento publicar o romance por assinaturas, em cadernetas de 15 réis, e dedicá-lo deste feitio:
AO ANJO
QUE CONSERVA SUA PUREZA NA DESGRAÇA E QUE, ANTES DE SER MÁRTIR,
SE CHAMOU MADEMOISELLE Elise de la Sallete,
E HOJE SE CHAMA APENAS
A SANTA,
CONSAGRA O AUTOR ESTA URNA das suas LÁGRIMAS
Naqueles primeiros dias vi de relance a mártir, à hora da tarde em que despregava da costura.
Concentrava-me e dizia-lhe no verbo de um suspiro: “Ó santa do amor!, mal dirão as mulheres que hoje pompeiam nos salões com os vestidos que lhes fizeste quantas lágrimas verteste no estofo, que te estava insultando e escarnecendo no infortúnio!”
Uma tarde de julho estava eu no Passeio Público, quando as duas francesas entraram. De longe e reverenciosamente as cortejei. Elisa respondeu-me com um gesto de imensa melancolia, como quem diz: “Oh!, não reveles a esses homens de pedra a desgraçada que aqui vai!”
Atrás de mim estava um grupo de homens, que falaram e riam, quando as modistas passaram. Apurei o ouvido e escutei, com preferência, a voz de um sujeito, entre os dizeres zombeteiros dos outros. Dizia assim:
“[...] Parece incrível! Quando eu a conheci, há quatro anos, estava ela com um estudante brasileiro, que estudava o Curso Superior de Letras. Encontrei-a nas guinguettes, a dançar o cancã com admirável mestria. Depois, o brasileiro endossou-a a um italiano; o italiano deu-a de mão beijada a um tenor; o tenor passou-a ao corifeu dos coristas; e daí começou a descer, e perdi-a de vista. Eis senão quando, dou com ela no armazém da *** com a mais pudica das caras e a mais mesurada das linguagens.