Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 4: CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA Pág. 56 / 156

Joaninha com o propósito de lhe falar em fugirem para um deserto; mas a pequena, como andasse atarefada com a matança dos cevados, não lhe deu trela. Por último, o meu vizinho ainda lá tornou numa noite de esfolhadas; porém, o abade, desconfiado, como pássaro bisnau que era, deu sobre o académico com uma foice roçadoira, e o académico fugiu com tanta pressa e felicidade que algum santo estava a pedir por ele. Em consequência disto é que o bacharel se embriagava, como Alfredo de Musset e Espronceda.

À imitação desta, podia eu contar a história de muitos bêbados ilustres da minha mocidade.(*)

[(*) A palavra é pouco urbana e civil para livro de tanta polpa e gravidade. Bêbado é o homem que se embebeda na taberna. Ao bebedor que se embriaga nos cafés e nas salas, a não se lhe dar nome de espirituoso, também não deve chamar- se bêbado. Os glossários que conheço carecem desta distinção, que se quer observada entre pessoas que se tratam.]

Conheci outros que eram poetas orientais. Escreviam do amor das mouras, das volúpias dos serralhos, das acesas paixões dos Árabes. Claro é que num clima temperado, e com os costumes chãos e algum tanto lorpas e lerdos da nossa terra, a imaginativa carecia de espiritar-se com os boléus da embriaguez para sair-se dignamente com uma sextilha asiática. Vinham a fazer ditirambos, que intitulavam Arrobos, ou Coriscos.

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NOTA

Entre as poesias de Silvestre, achamos uma, datada em 1855, que parece referir-se à época e aos poetas orientais de que vem falando nas suas memórias. Dela trasladamos um fragmento, que vem a ponto:

A esperança mocidade, a plêiade

De génios do Marrare, que é feito dela?

Pulavam em barda, enxame às nuvens

De abelhas, que libavam mel do Himeto,

Disfarçado em cognac;





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