Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA

Página 71

- Era uma pulseira! - interrompi eu com ambições de graça. - O barão, exceto os dedos, parece-me um bom sujeito!

- Era - disse Marcolina -, era um coração como poucos. As ameaças das pistolas, os insultos, a requisição das jóias e dos vestidos, tudo isto, que parece vilania, era nele uma sublime maneira de exprimir o seu muito ciúme e paixão.

Nunca mais vi a mestra, nem tive pessoa que me falasse de Augusto. Naturalmente o fui esquecendo, o forçoso era esquecê-lo em Paris e Londres, para onde o barão me levou, sem me dar tempo a pensar uma hora no meu passado.

De Londres fomos para Alemanha, e estávamos em Baden-Baden, quando o barão, no gozo de robusta saúde e felicidade que a cada hora me confessava, morreu subitamente de um ataque apoplético, quando se estava banhando.

Não estou a moer-lhe a paciência com os pormenores das coisas sucedidas depois da morte do meu extremoso amigo. Basta dizer-lhe que eu fiquei apenas possuidora dos objetos valiosos que tinha para meu uso, e sem esses mesmos ficaria se um português que estava em Baden-Baden me não aconselhasse a sonegá-los às averiguações da justiça. A mulher do barão veio a Portugal e habilitou-se herdeira única da grande riqueza.

Deliberei voltar para Lisboa.

***

- As minhas jóias valeriam quarenta mil cruzados.

Coadjuvada pelo serviçal português, que me aconselhara, vendi em Londres as melhores peças do meu cofre e apurei uns doze contos de réis. Cheguei a Lisboa e aluguei uma casinha agradável em Buenos Aires. Procurei minha irmã e encontrei-a com muita dificuldade, reduzida ao extremo aviltamento. Em menos de um ano, a infeliz descera a escala da abjeção, que outras descem em muitos anos de libertinagem, com reveses de miséria e luxo. Se alguma vez passou numas ruas imundas da cidade alta, onde as mulheres competem em palavras obscenas com os marinheiros embriagados, já sabe onde eu encontrei a primogénita das segundas núpcias da minha mãe.

<< Página Anterior

pág. 71 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro Coração, Cabeça e Estômago
Páginas: 156
Página atual: 71

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PREÂMBULO 1
PRIMEIRA PARTE – CORAÇÃO
CAPÍTULO I - SETE MULHERES
6
CAPÍTULO II - A MULHER QUE O MUNDO RESPEITA 29
CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA 55
SEGUNDA PARTE – CABEÇA
CAPÍTULO I – JORNALISTA
81
CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA 90
TERCEIRA PARTE – ESTÔMAGO
CAPÍTULO I - DE COMO ME CASEI
123