E ao escurecer, ela e ele, um pouco quebrados das felicidades da sesta, iriam pelos campos, ouvindo sob o céu que se estrela, o coaxar triste das rãs.
Cerrou os olhos. O movimento muito lançado do cupê, o calor, a presença dele, o contato da sua mão, do seu joelho, amoleciam-na. Sentia um desejo a alargar-se dentro do peito.
- Em que vais tu a pensar? - perguntou-lhe ele baixo, muito terno. Luísa fez-se vermelha. Não respondeu. Tinha medo de falar, de lhe dizer...
Basílio tomou-lhe a mão devagarinho, com respeito, com cuidado, como coisa preciosa e santa; e beijou-lha de leve, com a servilidade de um negro e a unção de um devoto. Aquela carícia tão humilde, tão tocante, quebrou-a; os seus nervos distenderam-se; deixou-se cair para o canto do cupê, rompeu a chorar...
Que era? Que tinha? Prendera-a nos braços, beijava-a, dizia-lhe palavras loucas.
- Queres que fujamos?
As suas lagrimazinhas redondas e luminosas, rolando devagarinho sobre a aquela face mimosa, enterneciam-no, e davam aos seus desejos uma vibração quase dolorosa.
- Foge comigo, vem, levo-te! Vamos para o fim do mundo!
Ela soluçou, murmurou muito doridamente:
- Não digas tolices.
Ele calou-se; pôs a mão sobre os olhos com uma atitude melancólica, pensando:
- "Estou a dizer tolices, não há que ver!"
Luísa limpava as lágrimas, assoando-se devagarinho.
- É nervoso - disse. - É nervoso. Voltamos, sim? Não me sinto bem. volte.
Basílio mandou bater para Lisboa.
Ela queixava-se de um ameaço de enxaqueca. Ele tinha-lhe tomado a mão, repetia-lhe as mesmas ternuras: chamava-lhe "sua pomba", "seu ideal". E pensava: - "Estás caída!"
Pararam na Praça da Alegria. Luísa espreitou, saltou depressa, dizendo:
- Amanhã, não faltes, hem?
Abriu o guarda-solinho, carregou-o sobre o rosto, subiu rapidamente para a Patriarcal.