O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 175 / 414

achando as pedrinhas da calçada menos numerosas que as virtudes do povo!

Sebastião que tinha estado na quinta de Almada quase duas semanas, ficou aterrado quando, ao voltar, a Joana lhe deu as grandes "novidades": que a Luisinha agora saía todos os dias às duas horas, que o primo não voltara; a Gertrudes é que lho dissera; não se falava na rua noutra coisa...

- Então a pobre senhora nem sequer pode ir às lojas, aos seus arranjos! - exclamou Sebastião. - A Gertrudes é uma desavergonhada, e nem sei como a tia Joana consente que ela ponha aqui os pés. Vir com esses mexericos!...

- Cruzes! Olha o destempero! - replicou muito escandalizada tia Joana. - Oh, menino, realmente... A pobre mulher disse o que ouviu na rua! Que ela até a defende; até ela é que a defende! Até se esteve a queixar que se fala! Que se fala! Boa! - E a tia Joana saiu, resmungando: - Olha o destempero, credo!

Sebastião chamou-a, aplacou-a:

- Mas quem fala, tia Joana?

- Quem? - E muito enfaticamente: - Toda a rua! Toda a rua! Toda a rua!

Sebastião ficou aniquilado. Toda a rua! Pudera! Se ela agora se punha a sair os dias; uma senhora, que quando estava Jorge não saía do buraco! A vizinhança que murmurara das visitas do outro naturalmente começava a comentar as saídas dela! Estava-se a desacreditar! E ele não podia fazer nada! Ir adverti-ta? Ter outra cena? Não podia.

Procurou-a. Não lhe queria decerto tocar em nada; ia só vê-la. Não estava. Voltou dai a dois dias. Juliana veio-lhe dizer à cancela, com o seu sorriso amarelado: "Foi-se agora mesmo, há um instantinho. Ainda a apanha à Patriarcal". Enfim, um dia encontrou-a ao princípio da Rua de São Roque. Luísa pareceu muito contente em o ver: - Por que se tinha demorado tanto em Almada? Que deserção!

Trazia carpinteiros; era necessário vigiar as obras.





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