O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 219 / 414

dias em que a figura, as toaletes, as passeatas de Luísa a irritavam mais, vinham-lhe venetas de sair para a rua, chamar os vizinhos, ler o papel, pô-la mais rasa que a lama, vingar-se da cabra!

Foi a tia Vitória que a calmou, e a dirigiu. Disse-lhe logo que para a armadilha ser completa era necessário uma carta do janota. Começara então o lento trabalho de lha apanhar! Fora preciso muita finura, muita chave experimentada, duas feitas por moldes de cera, paciência de gato, habilidades de ratoneiro! Mas pilhou-a, e que carta! Tinha-a lido com a tia Vitória - que rira, rira!... Sobretudo o bilhete em que Basílio lhe dizia: "Hoje não posso ir, mas espero-te amanhã às duas; mando-te essa rosinha, e peço-te que faças o que fizeste à outra, trazê-la no seio, porque é tão bom quando vens assim, sentir-te o peitinho perfumado!... " A tia Vitória, sufocada, a quis mostrar à sua velha amiga, a Pedra, a Pedra gorda, que estava na saleta.

A Pedra torceu-se! Os seus enormes seios, pendentes como odres mal-cheios tinham sacudidelas furiosas de hilaridade. E com as mãos nas ilhargas, rubra, roncando, com o seu vozeirão de trombone:

- Essa é das boas, tia Vitória! Essa é de mestre. Não, isso merece ir para os papéis. Ai os bêbedos! Raios do diabo!

A tia Vitória, então, disse muito seriamente a Juliana:

- Bem; agora tens a faca e o queijo! Com isso já podes falar do alto. E esperar a ocasião. Muito bons modos, cara prazenteira, sorrisos a fartar para ela não desconfiar, e o olho alerta. Tens o rato seguro, deixa-o dar ao rabo!

E desde esse dia Juliana saboreava com delicias, com gula, muito consigo - aquele gozo de a ter "na mão", a Luisinha, a senhora, a patroa, a Piorrinha! Via-a aperaltar-se, ir ao homem, cantarolar, comer bem - e pensava com uma voluptuosidade felina: "Anda, folga, folga, que eu cá ta tenho armada!" Aquilo dava-lhe um orgulho perverso.





Os capítulos deste livro