- Onde vais tu?
- Vou ao banho.
Que esperasse, que diabo; queria falar com ele...
- Não posso! - exclamou Reinaldo com um egoísmo frenético. Vem tu cá abaixo! Posso perfeitamente conversar na água!
Saiu, berrando por William, o seu criado inglês.
Quando Basílio desceu aos banhos, Reinaldo estirado com voluptuosidade na tina, de onde saía um forte cheiro de água de Lubin, exclamou, deleitando-se no seu conforto:
- Então cartinha apanhada nos papéis sujos!
- Não, Reinaldo, mas francamente estou embaraçado; que achas tu que eu faça?
- As malas, menino!
E sentado na tina, ensaboando devagar o seu corpo magro:
- Aí está o que é fazer amor às primas da Patriarcal Queimada!
- Oh! - fez Basílio, impaciente.
- Oh, quê? - E, coberto de flocos de espuma, com as mãos apoiadas ao rebordo de mármore da tina: - Pois tu achas isso decente, uma mulher que toma a cozinheira por confidente, que lhe está na mão, que perde a carta nos papéis sujos, que chora, que pede duzentos mil réis, que se quer safar isso é lá amante, isso é lá nada! Uma mulher que, como tu mesmo disseste, usa meias de tear!
- Meu rico, é uma mulher deliciosa!
O outro encolheu os ombros, descrente. Basílio deu logo provas; descreveu belezas do corpo de Luísa; citou episódios lascivos.
O teto e os tabiques envernizados de branco refletiam a luz, com tons macios de leite; a exalação da água tépida aumentava o calor morno; e um cheiro fresco de sabão e água de Lubin adoçava o ar.
- Bem! Estás pelo beiço - resumiu Reinaldo com tédio, estirando-se.
Basílio teve um movimento de ombro, que repelia aquela suposição grotesca.
- Mas dize, então, queres ficar-lhe agarrado às saias ou queres desembaraçar-te dela? Mas a verdade, venha a verdade!
- Eu - disse logo Basílio, chegando-se à tina, baixo - se me pudesse desembaraçar decentemente.