O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 304 / 414

Aquela opinião escandalizou a todos, sobretudo o Conselheiro, que a achou "de um materialismo repugnante".

- Essas fêmeas para quem é tão severo, Sr. Zuzarte - exclamava ele - essas fêmeas são nossas mães, nossas carinhosas irmãs, a esposa do chefe de Estado, as damas ilustres da nobreza...

- São o melhor bocadinho deste vale de lágrimas - interrompeu com fatuidade o Saavedra, dando palmadinhas sobre o estômago. Dissertou então sobre as mulheres. O que sobretudo lhes exigia era um bonito pé; não havia nada como um pezinho catita! E a todas preferia a mulher espanhola!

O Alves votava pelas francesas; citava algumas do café-concerto, criaturas de fazer perder a cabeça!... - E injetavam-se-lhe os olhos.

O Saavedra disse com um trejeito hostil:

- Sim, para um bocado de cancã... Para o cancã não há como as francesas... Mas muito chupistas!

O Conselheiro afirmou ajeitando as lunetas:

- Viajantes instruídos têm-me afiançado que as inglesas são notáveis mães de família...

- Mas frias como esta madeira - disse o Saavedra batendo na mesa. - Mulheres de gelo! - E reclamava espanholas! Queria fogo! Queria salero! Tinha o olhar brilhante do vinho; a comida acendia-lhe o sentimento.

- Uma bela gaditana, hem, amigo Alves?

Mas em presença dos doces que a Sra. Filomena dispôs sobre a mesa, o Alves Coutinho esquecera as mulheres, e, voltado para Sebastião, discutia gulodices. Indicava as especialidades: para os folhados, o Cocó! Para as natas, o Baltresqui! Para as gelatinas, o Largo de São Domingos! Dava receitas; contava proezas de lambarice, revirando os olhos:

- Porque - dizia - o docinho e a mulherzinha é o que me toca cá por dentro a alma!

Era todo o tempo que não dedicava ao serviço do Estado, dividia-o, com solicitude, entre as confeitarias e os lupanares.





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