Mas para uma ceia, para um bocado de cancã não havia outras... - Afirmava-o com convicção, pois, como os burgueses "da sua roda", avaliava doze milhões de francesas por seis prostitutas do café-concerto - que tinha pago caro e enfastiado imenso!
Leopoldina, para o lisonjear, chamou-lhe estróina!
Ele sorria, deliciando-se, afiando as pontas do bigode:
- Calúnias, calúnias... - murmurava.
E Leopoldina voltando-se para Luísa:
- Comprou uma quinta magnífica em Bordéus, um palácio!...
- Uma choupana, uma choupana...
- E naturalmente vai dar festas magníficas!...
- Modestos chás, modestos chás... - dizia, repoltreando-se.
E riam ambos de um modo muito afetado.
O Castro curvou-se então para Luísa:
- Tive o gosto de ver Vossa Excelência há tempos, na Rua do Ouro...
- Creio que também me lembro... - respondeu ela.
E ficaram calados. Leopoldina tossiu, sentou-se mais à beira do sofá e depois de sorrir:
- Pois eu mandei-o chamar porque temos uma coisa a dizer-lhe.
- Castro inclinou-se. O seu olhar não deixava Luísa, percorria-a com atrevimento, palpava-a.
- Aqui está o que é. Eu vou direita às coisas, sem preâmbulos. - E teve outro risinho. - Aqui a minha amiga está num grande apuro, e precisa um conto de réis.
Luísa acudiu, com a voz quase sumida:
- Seiscentos mil réis...
- Isso não importa - disse Leopoldina com uma indiferença opulenta estamos a falar com um milionário! A questão é esta: quer o meu amigo fazer o favor?
O Castro endireitou-se na cadeira, devagar, e com uma voz arrastada, ambígua:
- Certamente, certamente...
Leopoldina ergueu-se logo:
- Bem. Eu tenho ali no quarto a costureira à espera. Deixo-os falar do negócio.
E à porta do quarto, voltando-se para o Castro, ameaçando-o com o dedo, a voz muito alegre:
- Que o juro seja pequeno, hem?
E saiu, rindo.