O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 323 / 414

Mas para uma ceia, para um bocado de cancã não havia outras... - Afirmava-o com convicção, pois, como os burgueses "da sua roda", avaliava doze milhões de francesas por seis prostitutas do café-concerto - que tinha pago caro e enfastiado imenso!

Leopoldina, para o lisonjear, chamou-lhe estróina!

Ele sorria, deliciando-se, afiando as pontas do bigode:

- Calúnias, calúnias... - murmurava.

E Leopoldina voltando-se para Luísa:

- Comprou uma quinta magnífica em Bordéus, um palácio!...

- Uma choupana, uma choupana...

- E naturalmente vai dar festas magníficas!...

- Modestos chás, modestos chás... - dizia, repoltreando-se.

E riam ambos de um modo muito afetado.

O Castro curvou-se então para Luísa:

- Tive o gosto de ver Vossa Excelência há tempos, na Rua do Ouro...

- Creio que também me lembro... - respondeu ela.

E ficaram calados. Leopoldina tossiu, sentou-se mais à beira do sofá e depois de sorrir:

- Pois eu mandei-o chamar porque temos uma coisa a dizer-lhe.

- Castro inclinou-se. O seu olhar não deixava Luísa, percorria-a com atrevimento, palpava-a.

- Aqui está o que é. Eu vou direita às coisas, sem preâmbulos. - E teve outro risinho. - Aqui a minha amiga está num grande apuro, e precisa um conto de réis.

Luísa acudiu, com a voz quase sumida:

- Seiscentos mil réis...

- Isso não importa - disse Leopoldina com uma indiferença opulenta estamos a falar com um milionário! A questão é esta: quer o meu amigo fazer o favor?

O Castro endireitou-se na cadeira, devagar, e com uma voz arrastada, ambígua:

- Certamente, certamente...

Leopoldina ergueu-se logo:

- Bem. Eu tenho ali no quarto a costureira à espera. Deixo-os falar do negócio.

E à porta do quarto, voltando-se para o Castro, ameaçando-o com o dedo, a voz muito alegre:

- Que o juro seja pequeno, hem?

E saiu, rindo.





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