O Castro disse logo a Luísa, curvando-se:
- Pois minha senhora, eu...
- A Leopoldina contou-lhe a verdade, estou numa grande aflição de dinheiro. E dirijo-me a si... São seiscentos mil réis... Procurarei pagar, o mais depressa...
- Oh, minha senhora! - fez o Castro com um gesto generoso. Começou então a dizer que compreendia perfeitamente, todo o mundo tinha os seus embaraços... Lamentava que a não tivesse conhecido há mais tempo... Sempre tivera uma grande simpatia por ela... Uma grande simpatia!...
Luísa calava-se, com os olhos baixos. Ele foi pousar o chicote na jardineira, veio sentar-se no sofá junto dela. Vendo o seu ar embaraçado, pediu-lhe que não se afligisse. Valia lá a pena por questões de dinheiro! Tinha o maior prazer em servir uma senhora nova, tão interessante... Fizera perfeitamente em se dirigir a ele. Conhecia casos em que senhoras se dirigiam a agiotas que as exploravam, eram indiscretos... - E falando tinha-lhe tomado a mão; o contato daquela pele apetecida, exaltando-lhe o desejo brutalmente, fazia-o respirar alto. Luísa, toda constrangida, nem retirara a mão; e Castro abrasado - como uma verbosidade um pouco rouca prometia tudo, tudo o que ela quisesse!... Os seus olhinhos arregalados devoravam-lhe o pescoço muito branco.
- Seiscentos mil réis..., o que quiser!...
- E quando? - disse Luísa muito perturbada.
Ele via-lhe o seio arfar - e sob a irrupção de um desejo brutal:
- Já!
Agarrou-a pela cinta, atirou-lhe um beijo voraz, quase lhe mordeu a face.
Luísa ergueu-se com o salto de uma mola de aço.
Mas o Castro escorregara sobre o tapete, de joelhos; e, prendendo-lhe sofregamente os vestidos:
- Dou-lhe o que quiser, mas sente-se! Há anos que tenho uma paixão por si.