Escute! - Os seus braços trémulos subiam; envolviam-na, e o que sentia das formas inflamava-o.
Luísa, sem ruído, repelia-lhe as mãos, recusava-se.
- O que quiser! Mas ouça! - balbuciava ele puxando-a violentamente para si. A concupiscência brutal dava-lhe uma respiração de touro.
Então, com um puxão desesperado às saias, ela soltou-se, recuando aflita:
- Deixe-me! Deixe-me!
O Castro ergueu-se, a bufar, e com os dentes cerrados, os braços abertos, rompeu para ela.
Diante daquela luxúria bestial, Luísa, indignada, agarrou instintivamente de
sobre a jardineira o chicote e deu-lhe uma forte chicotada na mão.
A dor, a raiva, o desejo enfureceram-no.
- Seu diabo! - rosnou, rangendo os dentes.
Ia-se arremessar. Mas Luísa então, erguendo o braço, revolvida por uma cólera frenética, atirou-lhe chicotadas rapidamente pelos braços, pelos ombros - muito pálida, muito séria, com uma crueldade a reluzir-lhe nos olhos, gozando uma alegria de desforra em fustigar aquela carne gorda.
O Castro, assombrado, defendia-se vagamente, com os braços diante da cara, recuando; de repente, topou contra a jardineira; o candeeiro de porcelana oscilou, desequilibrou-se, rolou no chão com estilhaços de louça, e uma nódoa escura de azeite alastrou-se na esteira.
- Ai está! Vê? - disse Luísa toda a tremer, apertando ainda convulsivamente o chicote.
Leopoldina ao barulho correu, do quarto.
- Que foi? Que foi?
- Nada, estávamos a brincar - disse Luísa.
Atirou o chicote para o chão, saiu da sala.
O Castro, lívido de raiva, tinha agarrado o chapéu; e fixando terrivelmente Leopoldina:
- Agradecido! Conte comigo quando quiser!
- Mas que foi? Que foi?
- Até à vista! - rugiu o Castro. - E indo apanhar o chicote, sacudindo-o ameaçadoramente para o quarto, onde Luísa entrara:
- Grande bêbeda! - murmurou com rancor.