Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 13: CAPÍTULO XIII

Página 352
..

D. Felicidade, abrasada, quis água. Jorge apressou-se: queria bolos? Neve? A excelente senhora hesitou; o chique da neve atraía-a, mas coibiu-se com terror da cólica. Veio sentar-se ao fundo ao pé de Luísa, e ficou a olhar, vagamente cansada; havia um sussurro lento; bocejava-se discretamente; e o fumo dos cigarros, entrando de fora, fazia uma névoa apenas perceptível que enchia a sala, ia prender-se ao lustre, embaciando ligeiramente as luzes. Quando Jorge saiu o Conselheiro acompanhou-o; ia acima tomar o seu copo de gelatina...

- É a minha ceia em dia de São Carlos - disse.

Voltou daí a pouco, limpando os beiços ao lenço de seda, ter com Jorge que fumava no pequeno patamar junto à entrada das cadeiras:

- Veja isto, Conselheiro! - disse-lhe logo Jorge indignado, mostrando a parede. - Que escândalo!

Tinham desenhado, com o charuto apagado sobre a parede caiada, enormes figuras obscenas; e alguém, prudente e amigo da clareza, ajuntara por baixo as designações sexuais com uma boa letra cursiva.

E Jorge, revoltado:

- E passam por aqui senhoras! Vêem, lêem! Isto só em Portugal!...

O Conselheiro disse:

- A autoridade devia intervir, decerto... - Acrescentou com bonomia: - São rapazes, com o charuto. Apreciam muito esta distração... - E sorrindo, recordando-se: - Uma ocasião mesmo, o Conde de Vila Rica, que tem graça, muita graça, insistiu comigo, dando-me o charuto, para que eu fizesse um desenho... - E mais baixo: - Eu dei-lhe uma lição severa. Tomei o charuto...

- E fumou-o?

- Escrevi.

- Uma obscenidade?

O Conselheiro, recuando, exclamou com severidade:

- Jorge, conhece o meu caráter! Pois supõe...? - E acalmando-se: - Não, tomei o charuto e escrevi com mão firme: HONRA AO MÉRITO!

Mas a campainha retiniu, entraram no camarote.

<< Página Anterior

pág. 352 (Capítulo 13)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Primo Basílio
Páginas: 414
Página atual: 352

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 24
CAPÍTULO III 45
CAPÍTULO IV 70
CAPÍTULO V 121
CAPÍTULO VI 154
CAPÍTULO VII 191
CAPÍTULO VIII 213
CAPÍTULO IX 251
CAPÍTULO X 273
CAPÍTULO XI 293
CAPÍTULO XII 327
CAPÍTULO XIII 346
CAPÍTULO XIV 366
CAPÍTULO XV 387
CAPÍTULO XVI 400
"O PRIMO BASÍLIO" (CARTA A TEÓFILO BRAGA) 411