O Primo Basílio - Cap. 13: CAPÍTULO XIII Pág. 353 / 414

Luísa incomodada não quis sentar-se à frente. E o Conselheiro, grave, tomou o seu lugar - defronte de D. Felicidade. Foi para a nutrida senhora um momento feliz, de um gozo requintado. Estavam ambos, ali, como noivos! O seu peito abundante arfava; via-se a saírem; mais tarde de braço dado, entrarem num cupê estreito, pararem à porta da casa conjugal, pisarem o tapete da alcova. Tinha um suor à raiz dos cabelos - e vendo o Conselheiro sorrir-lhe, amável, com a sua calva toda luzidia ao gás, sentia um reconhecimento apaixonado pela mulher de virtude que àquela hora, no fundo da Galiza, estava cravando agulhas num coração de cera!...

Mas de repente o Conselheiro bateu na testa, arremessou-se sobre o chapéu, saiu impetuosamente. Olharam-se inquietos. D. Felicidade empalideceu; seria alguma dor? Santo Deus! Já murmurava baixo uma reza.

Mas viram-no entrar logo, e dizer com uma voz triunfante:

- De azul-escuro!

Abriram grandes olhos, sem compreender.

- Sua Majestade a rainha! Tinha prometido verificá-lo, cumpri-o!

E sentou-se com solenidade, dizendo a Luísa:

- Lamento que se esconda nesse recanto, D. Luísa! Na sua idade! Na flor dos anos! Quando tudo na vida é cor-de-rosa!

Ela sorriu. Estava agora muito sobressaltada. A cada momento olhava o relógio. Sentia-se doente; os pés arrefeciam-lhe, uma vaga febre fazia-lhe a cabeça pesada. O seu pensamento estava na casa, em Juliana, em Sebastião, cortado de palpites, de esperanças, de terrores... E via, sem compreender, a multidão de soldados vestidos de cores bipartidas, com armas obsoletas, que marchavam, paravam numa cadência afetada, erguendo uma poeira sutil no tablado malregado. Um coro vigoroso ressoava: era a marcha arrogante e festiva dos reires alemães





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