O Primo Basílio - Cap. 16: CAPÍTULO XVI Pág. 404 / 414

Pareceu-lhe então que o final não era comovente: queria terminar por uma exclamação dolorosa, prolongada como um "ai"! Meditou, com os cotovelos sobre a mesa, a cabeça entre os dedos muito abertos; Adelaide então, chegando-se devagar, passou-lhe a mão pela calva; aquele doce amoroso fez decerto saltar a idéia como uma faísca, porque tomou rapidamente a pena, e acrescentou:

- "Chorai! Chorai! Enquanto a mim, a dor sufoca-me!"

Esfregou as mãos com orgulho. Repetiu alto num tom plangente:

- "Chorai, chorai; enquanto a mim, a dor sufoca-me!" - E passando o braço concupiscente pela cinta da Adelaide, exclamou:

- Está de fazer sensação, minha Adelaide!

Ergueu-se. Tinha terminado o seu dia. Fora bem preenchido e digno; de manhã certificara-se com regozijo no Diário do Governo, que a família real "passava sem novidade"; cumprira o dever de amigo, acompanhando Luísa aos Prazeres numa carruagem da Companhia; a alta das inscrições assegurava-lhe a paz da sua pátria; compusera uma prosa notável; a sua Adelaide amava-o! E decerto se deliciou na certeza destas felicidades, que contrastavam tanto com as imagens sepulcrais que a sua pena revolvera, porque Adelaide ouviu-o murmurar:

- A vida é um bem inestimável! - E acrescentar como bom cidadão: Sobretudo nesta era de grande prosperidade pública!

E entrou no quarto com a cabeça ereta, o peito cheio, os passos firmes, erguendo alto o castiçal.

A sua Adelaide seguia-o bocejando; estava cansada da constipação e - de uma hora de ternuras, que tivera à tardinha, com o louro e meigo Arnaldo, caixeiro da Loja da América.

Àquela hora dois homens desciam de uma carruagem à porta do Hotel Central; um trazia uma ulster de xadrez, o outro uma longa peliça. Um ônibus quase ao mesmo tempo parou, carregado de bagagens.





Os capítulos deste livro