O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 84 / 414

.. Mas uma troça de rapazes bêbedos que descia de chapéu na nuca, falando alto, aos tropeções, assustou muito as duas. Luísa encolheu-se logo contra Basílio; D. Felicidade enfiada agarrou-lhe ansiosamente o braço, quis-se meter numa carruagem; e até ao Loreto foi explicando o seu medo aos borrachos, com a voz atarantada, contando casos, facadas, sem largar o braço de Basílio. Da fileira de tipóias, ao lado das grades da Praça de Camões, um cocheiro lançou logo a sua caleche descoberta, de pé na almofada apanhando confusamente as rédeas, com grandes chicotadas na parelha, excitado, gritando:

- Pronto, meu amo, pronto!

Demoraram-se um momento ainda conversando. Um homem então passou, rondou - e Luísa desesperada reconheceu os olhos acarneirados do sujeito da pêra.

Entraram para a caleche. Luísa ainda se voltou para ver Basílio imóvel no largo, com o seu chapéu na mão; depois acomodou-se, pôs os pezinhos no outro assento e balançada pelo trote largo viu passar, calada, as casas apagadas da Rua de São Roque, as árvores de São Pedro de Alcântara, as fachadas estreitas do Moinho de Vento, os jardins adormecidos da Patriarcal. A noite estava imóvel, de um calor mole, e desejava, sem saber por que, rolar assim sempre, infinitamente, entre ruas, entre grades cheias de folhagem de quintas nobres, sem destino, sem cuidados, para alguma coisa de feliz que não distinguia bem! Um grupo defronte da Escola ia tocando o Fado do Vimioso; aqueles sons entraram-lhe na alma como um vento doce, que fazia agitar brandamente muitas sensibilidades passadas, suspirou baixo.

- Um suspirozinho que vai para o Alentejo - disse D. Felicidade, tocando-lhe no braço.

Luísa sentiu todo o sangue abrasar-lhe o rosto. Davam onze horas quando entrou em casa.





Os capítulos deste livro