Os Maias - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 105 / 630

Na face de Carlos passava um sorriso enternecido pensando em Madame Rughel, que viajara na Finlândia, e cantava às vezes aquela Primavera nas suas horas de sentimentalismo flamengo...

Steinbroken soltou um stacato agudo, isolado como uma voz num alto, - e imediatamente, afastando-se do piano, passou o lenço sobre as fontes, sobre o pescoço, rectificou com um puxão a linha da sobrecasaca, e agradeceu o acompanhamento ao Cruges num silencioso shake-hands.

- Bravo! bravo! berrava o marquês, batendo as mãos como malhos.

E outros aplausos ressoaram à porta, dos parceiros do whist, que tinham findado a partida. Quase imediatamente os escudeiros entravam com um serviço frio de croquetes e sandwichs, oferecendo St. Emilion ou Porto; e sobre uma mesa, entre os renques de cálices, a poncheira fumegou num aroma doce e quente de cognac e limão.

- Então, meu pobre Steinbroken, exclamou Afonso, vindo-lhe bater amavelmente no ombro, ainda dá desses belos cantos a estes bandidos, que o maltratam assim ao bilhar?

- Fui essfôladito, si, essfôladito. Agradecido, nô, prefiro um copita Porto...

- Hoje fomos nós as vítimas, disse-lhe o general respirando com delicia o seu ponche.

- Você tãbem, meu genêral?

- Sim, senhor, também me cascaram...

E que dizia o amigo Steinbroken às noticias da manhã? perguntava Afonso. A queda de Mac-Mahon, a eleição de Grevy... O que o alegrava nisto, era o desaparecimento definitivo do antipático senhor de Broglie e da sua clique. A impertinencia daquele académico estreito, querendo impor a opinião de dois ou três salões doutrinários à França inteira, a toda uma Democracia! Ah, o Times cantava-lhas!

- E o Punch? Não viu o Punch? Oh, delicioso!...

O ministro pousara o cálice, e esfregando cautelosamente as mãos disse numa meia voz grave a sua frase, a frase definitiva com que julgava todos os acontecimentos que aparecem em telegramas :

- É grave... É excessivamente grave...





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