Os Maias - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 140 / 630

Vejam vocês isto, filhos, vinte e sete anos!) Enfim, voltei-me para tua mãe, e disse-lhe, palavras textuais: «Ponha-lhe o nome de Carlos Eduardo, minha rica senhora, Carlos Eduardo, que é o verdadeiro nome para o frontispício de um poema, para a fama de um heroísmo ou para o lábio de uma mulher!»

Dâmaso, que continuava a admirar Carlos, deu bravos estrondosos; Craft bateu ligeiramente os dedos; e o Ega, que rondava a porta, nervoso, de relógio na mão, soltou de lá um muito bem desenxabido.

Alencar, radiante com o seu efeito, derramava em roda um sorriso que lhe mostrava os dentes estragados. Abraçou outra vez Carlos, atirou uma palmada ao coração, exclamou:

- Caramba, filhos, sinto uma luz cá dentro!

A porta abriu-se, o Cohen entrou, todo apressado, desculpando-se logo da sua demora - enquanto Ega, que se precipitara para ele, lhe ajudava a despir o paletó. Depois apresentou-o a Carlos - a única pessoa ali de quem o Cohen não era íntimo. E dizia, tocando o botão da campainha eléctrica:

- O marquês não pôde vir, menino, e o pobre Steinbroken, coitado, está com a sua gota, a gota de diplomata, de lord e de banqueiro... A gota que tu hás de ter, velhaco!

Cohen, um homem baixo, apurado, de olhos bonitos, e suíças tão pretas e luzidias que pareciam ensopadas em verniz, sorria, descalçando as luvas, dizendo, que, segundo os ingleses, havia também a gota de gente pobre; e era essa naturalmente a que lhe competia a ele...

Ega, no entanto, travara-lhe do braço, colocara-o preciosamente à mesa, à sua direita: depois ofereceu-lhe um botão de camélia de um ramo: o Alencar floriu-se também - e os criados serviram as ostras.

Falou-se logo do crime da Mouraria, drama fadista que impressionava Lisboa, uma rapariga com o ventre rasgado à navalha por uma companheira, vindo morrer na rua em camisa, dois faias esfaqueando-se, toda uma viela em sangue - uma sarrabulhada como disse o Cohen, sorrindo e provando o Bucelas.





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