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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 151
Todos esses epigramas, esses dichotes lorpas do raquítico e dos que o admiram, passam-me pelos pés como um enxurro de cloaca... O que faço é arregaçar as calças! Arregaço as calças... Mais nada, meu Ega. Arregaço as calças!

E arregaçou-as realmente, mostrando a ceroula, num gesto brusco e de delírio.

- Pois quando encontrares enxurros desses, gritou-lhe o Ega, agacha-te e bebe-os! Dão-te sangue e força ao lirismo!

Mas Alencar, sem o ouvir, berrava para os outros, esmurrando o ar:

- Eu, se esse Craveirete não fosse um raquítico, talvez me entretivesse a rolá-lo aos pontapés por esse Chiado abaixo, a ele e à versalhada, a essa lambisgonhice excrementícia com que seringou Satanás! E depois de o besuntar bem de lama, esborrachava-lhe o crânio!

- Não se esborracham assim crânios, disse de lá o Ega num tom frio de troça.

Alencar voltou para ele uma face medonha. A cólera e o cognac incendiavam-lhe o olhar; todo ele tremia:

- Esborrachava-lhos, sim, esborrachava, João da Ega! Esborrachava-lhos assim, olha, assim mesmo! - Rompeu a atirar patadas ao soalho, abalando a sala, fazendo tilintar cristais e louças. - Mas não quero, rapazes! Dentro daquele crânio só há excremento, vomito, pus, matéria verde, e se lho esborrachasse, por que lho esborrachava, rapazes, todo o miolo podre saía, empestava a cidade, tínhamos a cólera! Irra! Tínhamos a peste!

Carlos, vendo-o tão excitado, tomou-lhe o braço, quis acalmá-lo:

- Então, Alencar! Que tolice... Isso vale lá pena!...

O outro desprendeu-se, arquejante, desabotoou a sobrecasaca, soltou o último desabafo:

- Com efeito, não vale a pena ninguém zangar-se por causa desse Craveirote da Ideia nova, esse caloteiro, que se não lembra que a porca da irmã é uma meretriz de doze vinténs em Marco de Canavezes!

- Não, isso agora é de mais, pulha! gritou Ega, arremessando-se, de punhos fechados.

Cohen e Dâmaso, assustados, agarraram-no. Carlos puxara logo para o vão da janela o Alencar que se debatia, com os olhos chamejantes, a gravata solta.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 151

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605