Os Maias - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 170 / 630

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- Não, isso - exclamava Salcede, passeando pelo terraço, e recordando estas injúrias - hei de lhe fazer uma desfeita!... Não pensei ainda o quê, mas há de amargar-lhe... Lá isso, desconsiderações não admito a ninguém! a ninguém!

Arredondava o olho, ameaçador. Desde o seu feito no Grémio, quando o raquítico apavorado emudecera diante dele, Dâmaso ia-se tornando feroz. Pela menor coisa falava em «quebrar caras.»

- A ninguém! repetia ele, com puxões ao colete. Desconsiderações, a ninguém!

Nesse momento ouviu-se dentro, no escritório, a voz rápida do Ega - e quase imediatamente ele apareceu, com um ar de pressa, e atarantado.

- Olá, Dâmasozinho!... Carlos, dás-me aqui em baixo uma palavra?

Desceram do terraço, penetraram no jardim, até junto de duas olaias em flor.

- Tu tens dinheiro? - foi aí logo a exclamação ansiosa do Ega.

E contou a sua terrível atrapalhação. Tinha uma letra de noventa libras que se vencia no dia seguinte. Além disso, vinte e cinco libras que devia ao Eusébiozinho, e que ele lhe reclamara numa carta indecente: e era isto que desesperava o Ega...

- Quero pagar a esse canalha, e quando o vir colar-lhe a carta à cara com um escarro. Além disso a letra! E tenho para tudo isto quinze tostões...

- O Eusébiozinho é homem de ordem... Enfim, queres cento e quinze libras, disse Carlos.

Ega hesitou, com uma cor no rosto. Já devia dinheiro a Carlos. Estava-se sempre dirigindo àquela amizade, como a um cofre inesgotável...

- Não, bastam-me oitenta. Ponho o relógio no prego, e a peliça, que já não faz frio...

Carlos sorriu, subiu logo ao quarto a escrever um cheque - em quanto Ega procurava cuidadosamente um bonito botão de rosa para florir a sobrecasaca. Carlos não tardou, trazendo na mão o cheque, que alargara até cento e vinte libras, para o Ega ficar armado...

- Seja pelo amor de Deus, menino! disse o outro, embolsando o papel, com um belo suspiro de alivio.

Imediatamente trovejou contra o Eusébiozinho, esse vilão!





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