Os Maias - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 181 / 630

A senhora condessa, com um lindo movimento, encolheu os ombros, como duvidando discretamente; depois tomou a mão de Charlie, e deu um passo lento para a porta, puxando outra vez o véu.

- Como v. Ex.ª se interessa pela minha instalação, acudiu Carlos querendo retê-la, deixe-me mostrar-lhe a outra sala.

Correu o reposteiro. Ela aproximou-se, murmurou algumas palavras, aprovando a frescura dos cretones, a harmonia dos tons claros: depois o piano fê-la sorrir.

- Os seus doentes dançam quadrilhas?

- Os meus doentes, senhora condessa, respondeu Carlos, não são bastante numerosos para formar uma quadrilha. Raras vezes mesmo tenho dois para uma valsa... O piano está simplesmente ali para dar ideias alegres; é como uma promessa tacita de saúde, de futuras soirées, de bonitas arias do Trovador, em família...

- É engenhoso, disse ela dando familiarmente alguns passos na sala, com Charlie colado aos vestidos.

E Carlos, caminhando ao lado dela:

- V. Ex.ª não imagina como eu sou engenhoso!

- Já noutro dia me disse... Como foi que disse? Ah! que era muito inventivo quando odiava.

- Muito mais quando amo, disse ele rindo.

Mas ela não respondeu: parara junto do piano, remexeu um momento as músicas espalhadas, feriu duas notas no teclado.

- É um chocalho.

- Oh, senhora condessa!

Ela seguiu, foi examinar um quadro a óleo, copiado de Landseer - um focinho de cão de S. Bernardo, maciço e bonacheirão, adormecido sobre as patas. Quase roçando-lhe o vestido, Carlos sentia o fino perfume de verbena que ela usava sempre exageradamente: e, entre aqueles tons negros que a cobriam, a sua pele parecia mais clara, mais doce à vista, e atraindo como um cetim.

- Este é um horror, murmurou ela, voltando-se; mas disse-me o Ega que há quadros lindos no Ramalhete... Falou-me sobretudo de um Greuze e de um Rubens... É pena que se não possam ver essas maravilhas.

Carlos lamentava também que uma existência de solteirões lhes impedisse, a ele e ao avô, de receberem senhoras. O Ramalhete estava tomando uma melancolia de mosteiro.





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