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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 240
Nenhum era congénere com o Ega! Para dominicano era muito magro, para trapista muito lascivo, muito palrador para jesuíta, e para beneditino muito ignorante... Era necessário criar uma ordem para ele! Craft lembrou a Santa Blague!

- Vocês não têm coração, exclamou Ega, enchendo outro grande copo. Vocês não sabem, eu adorava aquela mulher!

Então largou a falar de Rachel. E teve ali, decerto, os momentos melhores de toda aquela paixão, - porque pôde, sem escrúpulo, fazer reluzir a sua auréola de amante, banhar-se no mar de leite das confidências vaidosas. Começou por contar o encontro com ela na Foz - enquanto Craft, sem perder uma palavra, como quem se instrui, se erguera a abrir uma garrafa de Champagne. Disse depois os passeios na Cantareira; as cartinhas ainda hesitantes e platónicas, trocadas entre folhas de livros emprestados, em que ela se assinava Violeta de Parma; o primeiro beijo, o melhor, surripiado entre duas portas, enquanto o marido correra acima a buscar-lhe charutos especiais; os rendez-vous no Porto, no Cemitério do Repouso, as pressões ardentes de mãos à sombra dos ciprestes, e os planos de voluptuosidade combinados entre as lápides fúnebres...

- Muito curioso! dizia o Craft.

Mas Ega teve de se calar, o criado entrava com o café. Enquanto se enchiam as chávenas, e Craft fora buscar uma caixa de charutos, ele acabou a garrafa de Champagne, já pálido, com o nariz afilado.

O criado saiu, correndo o reposteiro de tapeçaria: e logo Ega, com o cálice de cognac ao lado, recomeçou as confidências, contou a volta a Lisboa, a Vila Balzac, as manhãs deliciosas passadas lá com ela no calor de um ninho de amor...

Mas agora interrompia-se, vago e com os olhos turvos, enterrando um momento a cabeça entre os punhos. Depois lá vinha outro detalhe, os nomes lúbricos que ela lhe dava, uma certa coberta de seda preta onde ela brilhava como um jaspe... Duas lágrimas embaciaram-lhe os olhos, jurou que queria morrer!

- Se vocês soubessem que corpo de mulher! gritou ele de repente. Oh meninos, que corpo de mulher... Imaginem vocês um peito...

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pág. 240 (Capítulo 9)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 240

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605