Os Maias - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 308 / 630

- Que bonitas flores V. Ex.ª tem, minha senhora! disse ele, voltando a cabeça, em quanto ia secando distraída e lentamente a receita.

De pé, junto do contador árabe, onde pousava um vaso amarelo da Índia, ela arranjava folhas em volta de duas rosas.

- Dão frescura, disse ela. Mas imaginei que em Lisboa havia mais bonitas flores. Não há nada que se compare às flores de França... Pois não é verdade?

Ele não respondeu logo, esquecido a olhar para ela, pensando na doçura de ficar ali eternamente naquela sala de reps vermelho, cheia de claridade e cheia de silêncio, a vê-la pôr folhas verdes em torno de pés de rosa!

- Em Sintra há lindas flores, murmurou por fim.

- Oh, Sintra é um encanto! disse ela, sem erguer os olhos do seu ramo. Vale a pena vir a Portugal só por causa de Sintra.

Nesse momento, o reposteiro de reps esvoaçou, e Rosa entrou de dentro, correndo, vestida de branco, com meiazinhas de seda preta, uma onda negra de cabelo a bater-lhe as costas, e trazendo ao colo a sua grande boneca. Ao ver Carlos parou bruscamente, com os belos olhos muito abertos para ele, toda encantada, e apertando mais nos braços Cri-cri que vinha em camisa.

- Não conheces? perguntou-lhe a mãe, indo sentar-se outra vez diante do seu cesto de flores.

Rosa começava já a sorrir, o seu rostozinho cobria-se de uma linda cor. E assim, toda d'alvo e negro como uma andorinha, tinha um encanto raro, com o seu doce mimo de forma, a sua graça ligeira, os seus grandes olhos cheios d'azul, e um ruborzinho de mulher na face. Quando Carlos se adiantou com a mão estendida para renovar o antigo conhecimento - ela ergueu-se na ponta dos pés, estendeu-lhe vivamente a boquinha, fresca como um botão de rosa. Carlos ousou apenas tocar-lhe de leve na testa.

Depois quis apertar a mão à sua velha amiga Cri-cri. E então, de repente, Rosa recordou-se do que a trouxera ali a correr.

- É o robe-de-chambre, mamã! Não posso achar o robe-de-chambre de Cri-cri... Ainda a não pude vestir... Diz, sabes onde é que está o robe-de-chambre?

- Vejam esta desarranjada murmurava a mãe olhando-a com um sorriso lento e terno.





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