Depois ela falou da sua viagem que fora muito agradável; adorava andar no mar; tinha sido um encanto a manhã da chegada a Lisboa, com um céu azul-ferrete, o mar todo azul também, e já um calorzinho de clima doce... Mas depois, apenas desembarcados, tudo corra desagradavelmente. Tinham ficado mal alojados no Central. Niniche, uma noite, assustara-os muito com uma indigestão. Em seguida no Porto viera aquele desastre...
- Sim, disse Carlos, o marido de V. Ex.ª, na Praça Nova...
Ela pareceu surpreendida. Como sabia ele? Ah! sim, sabia decerto pelo Dâmaso...
- São muito amigos, creio eu.
Depois de uma leve hesitação, que ela compreendeu, Carlos murmurou:
- Sim... O Dâmaso vai bastante ao Ramalhete... É de resto um rapaz que eu conheço apenas há meses...
Ela abriu os olhos, pasmada.
- O Dâmaso? Mas ele disse-me que se conheciam desde pequeninos, que eram até parentes...
Carlos encolheu simplesmente os ombros, sorrindo.
- É uma bela ilusão... E se isso o faz feliz!...
Ela sorriu também, encolhendo também ligeiramente os ombros.
- E V. Ex.ª, minha senhora, continuou logo Carlos não querendo falar mais do Dâmaso, como acha Lisboa?
Gostava bastante, achava muito bonito este tom azul e branco de cidade meridional... Mas, havia tão poucos confortos!... A vida tinha aqui um ar que ela não pudera perceber ainda - se era de simplicidade ou de pobreza.
- Simplicidade, minha senhora. Temos a simplicidade dos selvagens...
Ela riu.
- Não direi isso. Mas suponho que são como os gregos: contentam-se em comer uma azeitona, olhando o céu que é bonito...
Isto pareceu adorável a Carlos, todo o seu coração fugiu para ela.
Maria Eduarda queixava-se sobretudo das casas, tão faltas de comodidade, tão despidas de gosto, tão desleixadas. Aquela em que vivia fazia a sua desgraça. A cozinha era atroz, as portas não fechavam. Na sala de jantar havia sobre a parede umas pinturas de barquinhos e colinas que lhe tiravam o apetite...