Os Maias - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 325 / 630

O amigo que Carlos gostava de ver entrar era o Cruges - que vinha da rua de S. Francisco, trazia alguma coisa do ar que Maria Eduarda respirava. O maestro sabia que Carlos ia rodas as manhãs ao prédio ver a «miss inglesa»: e muitas vezes, inocentemente, ignorando o interesse de coração com que Carlos o escutava, dava-lhe as ultimas noticias da vizinha...

- A vizinha lá ficou agora a tocar Mendelhson... Tem execução, tem expressão, a vizinha... Há ali estofo... E entende o seu Chopin.

Se ele não aparecia no Ramalhete, Carlos ia a casa buscá-lo: entravam no Grémio, fumavam um charuto nalguma sala isolada, falando da vizinha: Cruges achava-lhe «um verdadeiro tipo de grande dame».

Quase sempre encontravam o conde de Gouvarinho, que vinha ver (como ele dizia a faiscar de ironia) o que se passava «no país do Sr. Gambeta». Parecera remoçar ultimamente, mais ligeiro nos modos, com uma claridade de esperança nas lunetas, na fronte erguida. Carlos perguntava-lhe pela condessa. Lá estava no Porto, nos seus deveres de filha...

- E seu sogro?

O conde baixava a face radiante, para murmurar cava e resignadamente:

- Mal.

Uma tarde, Carlos conversava com Maria Eduarda, acariciando Niniche que se lhe viera sentar nos joelhos, quando Romão entreabriu discretamente o reposteiro, e baixando a voz, com um ar embaraçado, um ar de cumplicidade, murmurou:

- É o Sr. Dâmaso!...

Ela olhou o Romão, surpreendida daqueles modos, e quase escandalizada.

- Pois bem, mande entrar!

E Dâmaso rompeu pela sala, carregado de luto, de flor ao peito, gorducho, risonho, familiar, com o chapéu na mão, trazendo dependurado por um barbante um grande embrulho de papel pardo... Mas ao ver Carlos ali, intimamente, de cadelinha no colo, estacou assombrado, com o olho esbugalhado, como tonto.





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