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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 402
Depois, ao abrir subtilmente o portão da quinta, pensou que Maria teria adormecido: Niniche podia ladrar: os seus passos, entre as acácias, abafaram-se, mais cautelosos. E de repente sentiu ao lado, sob as ramagens, vindo do chão, dentre a erva, um resfolgar ardente de homem, a que se misturavam beijos. Parou, varado: e o seu ímpeto logo foi esmagar a cacete aqueles dois animais, enroscados na relva, sujando brutamente o poético retiro dos seus amores. Uma alvura de saia moveu-se no escuro: uma voz soluçava, desfalecida - oh yes, oh yes... Era a inglesa!

Oh santo Deus, era a inglesa, era miss Sarah! Apagando os passos, atordoado, Carlos escoou-se pelo portão, cerrou-o mansamente, foi esperar adiante, num recanto do muro, sob as ramarias de uma faia, sumido na sombra. E tremia de indignação. Era preciso contar imediatamente a Maria aquele grande horror! Não queria que ela consentisse um momento mais essa impura fêmea, junto de Rosa, roçando a candidez do seu anjo... Oh, era pavorosa uma tal hipocrisia, assim astuta e metódica, sem se desconcertar jamais! Havia dias apenas, vira a criatura desviar os olhos de uma gravura de Ilustração, onde dois castos pastores se beijavam num arvoredo bucólico! E agora rugia, estirada na erva!

Na estrada escura, do lado do portão, brilhou um lume de cigarro. Um homem passou, forte e pesado, com uma manta aos ombros. Parecia um jornaleiro. A boa miss Sarah não escolhera! Bem lavada, toda correcta, com os seus bandos puritanos, aceitava um qualquer, rude e sujo, desde que era um macho! E assim os embaíra, meses, com aquelas suas duas existências, tão separadas, tão completas! De dia virginal, severa, corando sempre, com a Bíblia no cesto da costura: à noite a pequena adormecia, todos os seus deveres sérios acabavam, a santa transformava-se em cabra, chale aos ombros, e lá ia para a relva, com qualquer!... Que belo romance para o Ega!

Voltou; tornou a abrir devagarinho o portão: de novo subiu, amolecendo os passos, a sombria rua de acácias.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 402

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605