Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 445 / 630

As dificuldades crescentes estonteavam-na; brigava com as criadas; bebia champagne «pour s'étourdir». Para satisfazer as exigências de Mr. de Trevernes empenhara as suas joias, e quase todos os dias chorava com ciúmes dele. Por fim houve uma penhora: uma noite tiveram de enfardelar à pressa roupa num saco, e ir dormir a um hotel. E, pior, pior que tudo! Mr. de Trevernes começava a olhar para ela de um modo que a assustava...

- Minha pobre Maria! murmurou Carlos, pálido, agarrando-lhe as mãos.

Ela permaneceu um momento sufocada, com o rosto caído nos joelhos dele. Depois limpando as lágrimas que a enevoavam:

- Aí estão as cartas de Mac-Gren, nesse cofre... Tenho-as guardado sempre para me justificar a mim mesma, se me é possível...

Pede-me em todas que vá para Fontainebleau; chama-me sua esposa; jura que apenas juntos iremos ajoelhar-nos diante da avó, obter a sua indulgência... Mil promessas! E era sincero... Que queres que te diga? A mamã uma manhã partiu com uma sucia para Baden.

Fiquei em Paris só, num hotel... Tinha um palpite, um terror que Trevernes aparecia... E eu só! Estava tão transtornada que pensei em comprar um revólver... Mas quem veio foi Mac-Gren.

E partira com ele, sem precipitação, como sua esposa, levando todas as suas malas. A mamã de volta de Baden correu a Fontainebleau, desvairada e trágica, amaldiçoando Mac-Gren, ameaçando-o com a prisão de Mazas, querendo esbofeteá-lo; depois rompeu a chorar. Mac-Gren, como um bebé, agarrou-se a ela aos beijos, chorando também. A mamã terminou por os apertar a ambos contra o coração, já rendida, perdoando tudo, chamando-lhes «filhos da sua alma». Passou o dia em Fontainebleau, radiante, contando «a patuscada de Baden», já com o plano de vir instalar-se no cotage, viver junto deles numa felicidade calma e nobre de avozinha...Era em maio; Mac-Gren, à noite, deitou um «fogo preso» no jardim.

Começou um ano quieto e fácil. O seu único desejo era que a mamã vivesse com eles sossegadamente. Diante das suas súplicas ela ficava pensativa, dizia: «Tens razão, veremos!»





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