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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 527

Levantei-me como se ele fosse um Deus! Qual Deus! não há Deus que me fizesse levantar!... Enfim, acabou-se, levantei-me! Ele olhou para mim, fez assim um gesto com a mão, e disse, a sorrir, com aquele ar de génio que tinha sempre: Bonsoir, mon ami!

E o Sr. Guimarães deu alguns passos dignos, em silêncio, como se aquele bonsoir, aquele mon ami, assim recordados, lhe fizessem mais vivamente sentir a sua importância no mundo.

De repente Alencar, que bracejava num grupo, rompeu para eles, pálido, de olhos chamejantes:

- Que me dizem vocês a esta pouca vergonha? Aquele infame ali há meia hora, com o infolio, a rosnar, a rosnar... E toda a gente a sair, não fica ninguém! Tenho de recitar aos bancos de palhinha!...

E abalou, rilhando os dentes, a exalar mais longe o seu furor.

Mas algumas palmas cansadas, dentro, fizeram voltar o Ega. O estrado ficara novamente vazio, com as duas velas ardendo no candelabro. Um cartão em grossas letras, que um criado colocara no piano, anunciava um «intervalo de dez minutos» como num

circo. E nesse instante a Sr.ª condessa de Gouvarinho saíra pelo braço do marido, deixando atrás um sulco largo de comprimentos, de espinhas que se vergavam, de chapéus de burocratas rasgadamente erguidos. O comissário do sarau azafamava-se procurando duas cadeiras para ss. Exc.as A condessa porém foi reunir-se a D. Maria da Cunha, que ela vira, com as Pedrosos e a marquesa de Soutal, refugiada num vão de janela. Ega imediatamente acercou-se do rancho íntimo, esperando que as senhoras se beijocassem.

- Então, Sr.ª condessa, ainda muito comovida com a eloquência do Rufino?

- Muito cansada... E que calor, hein?

- horrível. A Sr.ª baronesa d'Alvim saiu há pouco, com uma dor de cabeça...

A condessa, que tinha os olhos pisados e uma prega de velhice aos cantos da boca, murmurou:

- Não admira, isto não é divertido... Enfim, já agora é necessário levar a cruz ao Calvário.

- Se fosse uma cruz, minha senhora! exclamou o Ega. Infelizmente é uma lira!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 527

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605