Os Maias - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 55 / 630

- Sr. Vovô! dizia o pequeno escorropichando o copo. A cabecinha de cabelos negros, a velha face de barbas de neve, saudavam-se das extremidades da mesa - em quanto todos sorriam, no enternecimento daquela cerimónia. Depois o abade, de palito na boca, murmurou as graças. A Viscondessa, cerrando os olhos, juntou também as mãos. E Vilaça que tinha crenças religiosas não gostou de ver Carlos, sem se importar com as graças, saltar da cadeira, vir atirar-se ao pescoço do avô, falar-lhe ao ouvido.

- Não senhor! não senhor! dizia o velho.

Mas o rapaz, abraçando-o mais forte, dava-lhe grandes razões, num murmúrio de mimo doce como um beijo, que ia pondo na face do velho uma fraqueza indulgente.

- É por ser festa, disse ele enfim vencido. Mas veja lá, veja lá...

O rapaz pulou, bateu as palmas, agarrou Vilaça pelos braços, fê-lo redemoinhar, e foi cantando num ritmo seu:

- Fizeste bem em vir, bem, bem, bem!... Vou buscar a Terezinha, inha, inha, inha!

- É a noiva, disse o avô, erguendo-se da mesa. Já tem amores, é a pequena das Silveiras... O café para o terraço, Teixeira.

O dia fora convidava, adorável, de um azul suave, muito puro e muito alto, sem uma nuvem. Defronte do terraço os gerânios vermelhos estavam já abertos; as verduras dos arbustos, muito tenras ainda, de uma delicadeza de renda, pareciam tremer ao menor

sopro; vinha por vezes um vago cheiro de violetas, misturado ao perfume adocicado das flores do campo; o alto repuxo cantava; e nas ruas do jardim, bordadas de buxos baixos, a areia fina faiscava de leve àquele sol tímido de primavera tardia, que ao longe envolvia os verdes da quinta, adormecida a essa hora de sesta numa luz fresca e loura.

Os três homens sentaram-se à mesa do café. Defronte do terraço, o Brown, de boné escocês posto ao lado e grande cachimbo na boca, puxava ao alto a barra do trapézio para Carlos se balouçar. Então o bom Vilaça pediu para voltar as costas. Não gostava de ver ginásticas; bem sabia que não havia perigo; mas mesmo nos cavalinhos, as cabriolas, os arcos, atordoavam-no; saía sempre com o estômago embrulhado...





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