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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 585
Era medo do avô, medo do Ega, medo do Vilaça; medo daquela sineta do jantar que os chamava, os juntava; medo do seu quarto, onde a cada momento qualquer deles podia erguer o reposteiro, entrar, cravar os olhos na sua alma e no seu segredo... Tinha agora a certeza que eles sabiam tudo. E mesmo que nessa noite fugisse para Santa Olávia, pondo entre si e Maria uma separação tão alta como o muro de um claustro, nunca mais do espírito daqueles homens, que eram os seus amigos melhores, sairia a memória e a dor da infâmia em que ele se despenhara. A sua vida moral estava estragada... Então, para que partiria abandonando a paixão, sem que por isso encontrasse a paz? Não seria mais lógico calcar desesperadamente todas as leis humanas e divinas, arrebatar para longe Maria na sua inocência, e para todo o sempre abismar-se nesse crime que se tornara a sua sombria partilha na terra?

Já assim pensara na véspera. Já assim pensara... Mas antevira então um outro horror, um supremo castigo, a esperá-lo na solidão onde se sepultasse. Já lhe percebera mesmo a aproximação; já noutra noite recebera dele um arrepio; já nessa noite, deitado junto de Maria, que adormecera cansada, o pressentira, apoderando-se dele, com um primeiro frio de agonia.

Era, surgindo do fundo do seu ser, ainda ténue mas já perceptível, uma saciedade, uma repugnância por ela desde que a sabia do seu sangue!... Uma repugnância material, carnal, à flor da pele, que passava como um arrepio. fora primeiramente aquele aroma que a envolvia, flutuava entre os cortinados, lhe ficava a ele na pele e no fato, o excitava tanto outrora, o impacientava tanto agora – que ainda na véspera se encharcara em água de Colónia para o dissipar. fora depois aquele corpo dela, adorado sempre como um mármore ideal, que de repente lhe aparecera, como era na sua realidade, forte de mais, musculoso, de grossos membros de Amazona barbara, com todas as belezas copiosas do animal de prazer. Nos seus cabelos de um lustre tão macio, sentia agora inesperadamente uma rudeza de juba.

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pág. 585 (Capítulo 17)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 585

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605