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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 592
Para depositar o corpo, enquanto não fosse trasladado para Santa Olávia, Ega lembrara-se do jazigo do marquês.

Vilaça coçava o queixo, hesitando:

- Eu também tenho um jazigo. Foi o próprio Sr. Afonso da Maia que o mandou erguer para meu pai, que Deus haja... Ora parece-me que por uns dias ficava lá perfeitamente. Assim não se pedia a ninguém, e eu tinha nisso muita honra...

Ega concordou. Depois fixaram outros detalhes de convite, de hora, de chave do caixão. Por fim Vilarça, olhando o relógio, ergueu-se com um grande suspiro:

- Bem, vou dar esses tristes passos! E cá apareço logo, que o quero ver pela ultima vez, quando o tiverem vestido. Quem me havia de dizer! Ainda antes de ontem a jogar com ele... Até lhe ganhei três mil reis, coitadinho!

Uma onda de saudade sufocou-o, fugiu com o lenço nos olhos.

Quando Ega desceu, Carlos, todo de luto, estava sentado à escrivaninha, diante de uma folha de papel. Imediatamente ergueu-se, arrojou a pena.

- Não posso!... Escreve-lhe tu aí, a ela, duas palavras.

Em silêncio, Ega tomou a pena, redigiu um bilhete muito curto. Dizia: «Minha senhora. O Sr. Afonso da Maia morreu esta madrugada, de repente, com uma apoplexia. V. Ex.ª compreende que, neste momento, Carlos nada mais pode do que pedir-me para eu transmitir a V. Ex.ª esta desgraçada noticia. Creia-me, etc.» Não o leu a Carlos. E como Baptista entrava nesse momento, todo de preto, com o almoço numa bandeja, Ega pediu-lhe para mandar o trintenário com aquele bilhete à rua de S. Francisco. Baptista segredou sobre o ombro do Ega:

- É bom não esquecer as fardas de luto para os criados...

- O Sr. Vilaça já sabe.

Tomaram chá à pressa em cima do tabuleiro. Depois Ega escreveu bilhetes a D. Diogo e ao Sequeira, os mais velhos amigos de Afonso: e davam duas horas quando chegaram os homens com o caixão para amortalhar o corpo. Mas Carlos não permitiu que mãos mercenárias tocassem no avô. Foi ele e o Ega, ajudados pelo Baptista, que, corajosamente, recalcando a emoção sob o dever, o lavaram, o vestiram, o depuseram dentro do grande cofre de carvalho, forrado de cetim claro, onde Carlos colocou uma miniatura de sua avó Runa.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 592

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605