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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 611

- O Sr. Cruges! anunciou o criado, entreabrindo a porta.

Carlos ergueu os braços. E o maestro, todo abotoado num paletó claro, abandonou-se à efusão de Carlos, balbuciando:

- Eu só ontem é que soube. Queria-te ir esperar, mas não me acordaram...

- Então continua o mesmo desleixo? exclamava Carlos, alegremente. Nunca te acordam?

Cruges encolhia os ombros, muito vermelho, acanhado, depois daquela longa separação. E foi Carlos que o obrigou a sentar-se ao lado, enternecido com o seu velho maestro, sempre esguio, com o nariz mais agudo, a grenha caindo mais crespa sobre a gola do paletó.

- E deixa-me dar-te os parabéns! Lá soube pelos jornais, o triunfo, a linda ópera-cómica, a flor de Sevilha...

- De Granada! acudiu o maestro. Sim, uma coisita para aí, não desgostaram. - Uma beleza! gritou Alencar, enchendo outro copo de cognac. Uma música toda do sul, cheia de luz, cheirando a laranjeira... Mas já lhe tenho dito: «Deixa lá a opereta, rapaz, voa mais alto, faze uma grande sinfonia histórica!» Ainda há dias lhe dei uma ideia. A partida de D. Sebastião para a Africa. Cantos de marinheiros, atabales, o choro do povo, as ondas batendo... Sublime! Qual, põe-se-me lá com castanholas... Enfim, acabou-se, tem muito talento, e é como se fosse meu filho porque me sujou muita calça!...

Mas o maestro, inquieto, passava os dedos pela grenha. Por fim confessou a Carlos que não se podia demorar, tinha um rendez-vous...

- D'amor?

- Não... É o Barradas que me anda atirar o retrato a óleo.

- Com a lira na mão?

- Não, respondeu o maestro, muito sério. Com a batuta... E estou de casaca.

E desabotoou o paletó, mostrou-se em todo o seu esplendor, com dois corais no peitilho da camisa, e a batuta de marfim metida na abertura do colete.

- Estás magnifico! afirmou Carlos. Então outra coisa, vem cá jantar logo. Alencar, tu também, hein? Quero ouvir esses belos versos com sossego... às seis, em ponto, sem falhar. Tenho um jantarinho à portuguesa que encomendei de manhã com cozido, arroz de forno, grão-de-bico, etc., para matar saudades...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 611

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605