- Ah!... Bem, estimei ver-te, até sempre! Adeus, rapazes. Tu estás bom, Carlos, estás com boa cara!
- É dos teus olhos, Dâmaso.
E nos olhos do Dâmaso, com efeito, parecia reviver a antiga admiração, arregalados, acompanhando Carlos, estudando-lhe por traz a sobrecasaca, o chapéu, o andar, como no tempo em que o Maia era para ele o tipo supremo do seu querido chic «uma dessas coisas que só se vêem lá fora...»
- Sabes que o nosso Dâmaso casou? disse o Ega um pouco adiante, travando outra vez do braço de Carlos.
E foi um espanto para Carlos. O quê! O nosso Dâmaso! Casado!?... Sim, casado com uma filha dos condes de Águeda, uma gente arruinada, com um rancho de raparigas. Tinham-lhe impingido a mais nova. E o óptimo Dâmaso, verdadeira sorte grande para aquela distinta família, pagava agora os vestidos das mais velhas.
- É bonita?
- Sim, bonitinha... Faz aí a felicidade de um rapazote simpático, chamado Barroso.
- O quê, o Dâmaso, coitado...
- Sim, coitado, coitadinho, coitadíssimo... Mas como vês, imensamente ditoso, até tem engordado com a perfídia!
Carlos parara. Olhava, pasmado para as varandas extraordinárias de um primeiro andar, recobertas como em dia de procissão, de sanefas de pano vermelho onde se entrelaçavam monogramas. E ia indagar - quando, dentre um grupo que estacionava ao portal desse prédio festivo, um rapaz de ar estouvado, com a face imberbe cheia de espinhas carnais, atravessou rapidamente a rua para gritar ao Ega, sufocado de riso:
- Se você for depressa ainda a encontra aí abaixo! Corra!
- Quem?
- A Adosinda!... De vestido azul, com plumas brancas no chapéu... Vá depressa... O João Elyseu meteu-lhe a bengala entre as pernas, ia-a fazendo estatelar no chão, foi uma cena... Vá depressa, homem!
Com duas pernadas esguias o rapaz recolheu ao seu rancho - onde todos, já calados, com uma curiosidade de província, examinavam aquele homem de tão alta elegância que acompanhava o Ega e que nenhum conhecia.