E Ega, no entanto, explicava a Carlos as varandas e o grupo:
- São rapazes do Turf. É um club novo, antigo Jockey da travessa da Palha. Faz-se lá uma batotinha barata, tudo gente muito simpática... E como vês estão sempre assim preparados, com sanefas e tudo, para se acaso passar por aí o senhor dos Passos.
Depois, descendo para a rua Nova do Almada, contou o caso da Adosinda. fora no Silva, havia duas semanas, estando ele a cear com rapazes depois de S. Carlos, que lhes aparecera essa mulher inverosimil, vestida de vermelho, carregando sensatamente nos rr, metendo rr em todas as palavras, e perguntando pelo Sr. virrsconde... Qual virrsconde? Ela não sabia bem. Erra um virrsconde que encontrrárra no Crrolyseu. Senta-se, oferecem-lhe champagne, e D. Adosinda começa a revelar-se um sêr prodigioso. Falavam de política, do ministério e do deficit. D. Adosinda declara logo que conhece muito bem o deficit, e que é um belo rapaz... O deficit belo rapaz - imensa gargalhada! D. Adosinda zanga-se, exclama que já fora com ele a Sintra, que é um perfeito cavalheiro, e empregado no Banco Inglês... O deficit empregado no Banco Inglês - gritos, uivos, urros! E não cessou esta gargalhada continua, estrondosa, frenética, até às cinco da manhã em que D. Adosinda fora rifada e saíra ao Teles!... Noite soberba!
- Com efeito, disse Carlos rindo, é uma orgia grandiosa, lembra Heliogabalo e o Conde d'Orsay...
Então Ega defendeu calorosamente a sua orgia. Onde havia melhor, na Europa, em qualquer civilização? Sempre queria ver que se passasse uma noite mais alegre em Paris, na desoladora banalidade do Grand-Treize, ou em Londres, naquela correcta e massuda sensaboria do Bristol! O que ainda tornava a vida tolerável era de vez em quando uma boa risada. Ora na Europa o homem requintado já não ri, - sorri regeladamente, lividamente. Só nós aqui, neste canto do mundo bárbaro, conservamos ainda esse dom supremo, essa coisa bendita e consoladora - a barrigada de riso!
- Que diabo estás tu a olhar?