Os Maias - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 72 / 630

«Estão assim dissipadas todas as dúvidas, acrescentava o Vilaça. O pobre anjinho está numa pátria melhor. E para ela, bem melhor!»

Afonso, todavia, escreveu a André de Noronha. A resposta tardou. Quando o primo André procurara Me.de l'Estorade, havia semanas que ela partira para Alemanha, depois de vender mobília e cavalos. E no Club Imperial, a que ele pertencia, um amigo que conhecia bem Me. de l'Estorade e a vida galante de Paris, contara-lhe que a doida fugira com um certo Catani, acrobata do Circo de inverno nos campos Elísios, homem de formas magníficas, um Apolo de feira, que todas as cocotes se disputavam e que a Monforte empolgara. Naturalmente corria agora a Alemanha com a companhia de cavalinhos.

Afonso da Maia, enojado, remeteu esta carta ao Vilaça sem um comentário. E o honrado homem respondeu: «Tem V. Ex.ª razão, é atroz: e mais vale supor que todos morreram, e não gastar mais cera com tão ruins defuntos...» E depois num post-scriptum acrescentava: «Parece certo abrir-se em breve o caminho de ferro até ao Porto: em tal caso, com permissão de V. Ex.ª, aí irei e o meu rapaz a pedirmos-lhe alguns dias de hospitalidade.»

Esta carta foi recebida em Sta. Olávia um domingo, ao jantar. Afonso lera alto o P.S. Todos se alegraram, na esperança de ver o bom Vilaça em breve na quinta; e falou-se mesmo em arranjar um grande picnic, rio acima.

Mas, terça feira à noite, chegava um telegrama de Manuel Vilaça anunciando que o pai morrera, nessa manhã, de uma apoplexia: dois dias depois vinham mais longos e tristes pormenores. Fora depois do almoço que, de repente, Vilaça se sentira muito sufocado e com tonturas: ainda tivera forças d'ir ao quarto respirar um pouco de éter: mas ao voltar à sala cambaleava, queixava-se de ver tudo amarelo, e caiu de bruços, como um fardo, sobre o canapé.





Os capítulos deste livro