Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Capítulo 3

Página 73
O seu pensamento, que se extinguia para sempre, ainda nesse momento se ocupou da casa que há trinta anos administrava: balbuciou, a respeito de uma venda de cortiça, recomendações que o filho já não pode perceber: depois deu um grande ai; e só tornou a abrir os olhos, para murmurar no derradeiro sopro estas derradeiras palavras: Saudades ao patrão!

Afonso da Maia ficou profundamente afectado, e em Sta. Olávia, mesmo entre os criados, a morte de Vilaça foi como um luto doméstico. Uma dessas tardes, o velho, muito melancólico, estava na livraria com um jornal esquecido nas mãos, os olhos cerrados - quando Carlos, que ao lado rabiscava carantonhas num papel, veio passar-lhe um braço pelo pescoço, e como compreendendo os seus pensamentos perguntou-lhe se o Vilaça não voltaria a vê-los à quinta.

- Não filho, nunca mais. Nunca mais o tornamos a ver.

O pequeno, entre os joelhos e os braços do velho, olhava o tapete, e, como recordando-se, murmurou tristemente:

- O Vilaça, coitado... Dava estalinhos com os dedos... Oh vovô, para onde o levaram?

- Para o cemitério, filho, para debaixo da terra.

Então Carlos desprendeu-se devagar do abraço do avô, e muito sério, com os olhos nele:

- Ó vovô! porque não lhe mandas fazer uma capelinha bonita, toda de pedra, com uma figura, como tem o papá?

O velho achegou-o ao peito, beijou-o, comovido:

- Tens razão, filho. Tens mais coração que eu!

Assim o bom Vilaça teve no cemitério dos Prazeres o seu jazigo - que fora a alta ambição da sua existência modesta.

Outros anos tranquilos passaram sobre Santa Olávia.

Depois uma manhã de julho, em Coimbra, Manuel Vilaça (agora administrador da casa) trepava as escadas do Hotel Mondego, onde Afonso se hospedara com o neto, e entrava-lhe pela sala, vermelho, suando, berrando:

- Neminè! Neminè!

<< Página Anterior

pág. 73 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 73

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605