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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 82

Mas a criatura, desvanecida, tornou-se intolerável, falando sem cessar doutras paixões que inspirara em Madrid e em Lisboa, do muito que lhe dera o conde de tal, o marquês sicrano, da grande posição da sua família ainda aparentada com os Medina-Coeli: os seus sapatos de cetim verde eram tão antipáticos como a sua voz estrídula: e quando tentava elevar-se às conversações que ouvia, rompia a chamar ladrões aos republicanos, a celebrar os tempos de D. Isabel, a sua graça, o seu salero - sendo muito conservadora como todas as prostitutas. João da Ega odiava-a. E Craveiro declarou que não voltava aos Paços de Celas enquanto por lá aparecesse aquele montão de carne, pago ao arrátel, como a de vaca.

Enfim, uma tarde Baptista, o famoso criado de quarto de Carlos surpreendeu-a com um Juca que fazia de dama no Teatro Académico. Aí estava, enfim, um pretexto! E, convenientemente paga, a parenta dos Medina-Coeli, o Lírio de Israel, a admiradora dos Bourbons, foi recambiada a Lisboa e à rua de S. Roque, seu elemento natural.

Em agosto, no acto da formatura de Carlos, houve uma alegre festa em Celas. Afonso viera de Santa Olávia, Vilaça de Lisboa; toda a tarde no quintal, dentre as acácias e as belas-sombras, subiram ao ar molhos de foguetes; e João da Ega, que levara o seu último R no seu último ano, não descansou, em mangas de camisa, pendurando lanternas venezianas pelos ramos, no trapézio e em roda do poço, para a iluminação da noite. Ao jantar, a que assistiam lentes, Vilaça, enfiado e trémulo, fez um speech; ia citar o nosso imortal Castilho quando sob as janelas rompeu, a grande ruído de tambor e pratos, o Hino Académico. Era uma serenata. - Ega, vermelho, de batina desabotoada, a luneta para traz das costas, correu à sacada, a perorar:

- Aí temos o nosso Maia, Carolus Eduardus ab Maia, começando a sua gloriosa carreira, preparado para salvar a humanidade enferma - ou acabar de a matar, segundo as circunstancias! A que parte remota destes reinos não chegou já a fama do seu génio, do seu dog-cart, do sebaceo acessit que lhe enódoa o passado, e deste vinho do Porto, contemporâneo dos heróis de 20, que eu, homem de revolução e homem de carraspana, eu, João da Ega, Johannes ab Ega...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 82

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605