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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 100

Todavia, e apesar de K. acreditar que podia efectuar tudo isto, a dificuldade na redacção do requerimento parecia esmagadora. Numa dada altura, não mais de uma semana antes, encarará quase com um ligeiro sentimento de vergonha a possibilidade de ter de redigir a sua própria defesa; nunca mesmo lhe ocorrera que pudesse sentir dificuldade em tal. Lembrava-se de que, numa dessas manhãs, quando estava enterrado em trabalho até às orelhas, pusera subitamente tudo de lado e agarrara no seu bloco de apontamentos com a ideia de redigir o plano do tal requerimento, a fim de o entregar ao Dr. Huld, de modo a interessá-lo, mas nesse preciso momento a porta do gabinete abriu-se e o subgerente entrou a rir ruidosamente. Aquele tinha sido um momento doloroso para K., embora, é claro, o subgerente não se tivesse rido do requerimento, do qual nada sabia, mas de uma história engraçada passada na bolsa e que acabara de ouvir, uma história que necessitava de ser ilustrada para uma conveniente apreciação, de modo que o subgerente, curvando-se sobre a secretária, tomou o lápis da mão de K. e fez o desenho necessário na página do bloco de apontamentos que estava reservada para o requerimento.

Hoje, K. já não sentia vergonha que o impedisse de prosseguir; o requerimento tinha simplesmente de ser redigido. Se não arranjasse tempo para o fazer no escritório, o que parecia muito provável, então teria de o redigir à noite, em sua casa. E, se as noites não chegassem, teria de meter férias, tudo menos parar a meio caminho, o que seria a atitude mais insensata que se podia tomar, não só em negócios mas também em qualquer outro assunto. Era decerto uma tarefa que representava um trabalho interminável. Não era preciso alguém ser por natureza tímido e medroso para se deixar convencer com facilidade de que era puramente impossível terminar tal requerimento. Não por razões de preguiça ou de malícia, que só ao Dr. Huld podiam servir de impedimento, mas pelo facto de ter de enfrentar uma acusação desconhecida, para não mencionar outras possíveis culpas daí advindas, sendo então a sua vida toda chamada à razão até aos mais íntimos pormenores, especificados e examinados de todos os ângulos. E, além disso, que fatigante seria tal tarefa! Decerto que serviria perfeitamente como ocupação durante a segunda infância de uma pessoa, na reforma, para preencher os longos dias de ócio.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 100

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179