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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 102

Este tinha seguido a argumentação do homem com muita atenção na sua primeira fase — a ideia de um negócio tão importante tinha também para ele o seu interesse —, mas, infelizmente, não conseguiu fazê-lo por mais tempo; em breve, deixou de escutar, limitando-se a acenar de vez em quando com a cabeça, sempre que as exclamações do industrial aumentavam de entusiasmo, e, por fim, até de mostrar interesse se esqueceu, ficando a olhar para a cabeça calva do outro, inclinada sobre os papéis, e perguntando a si próprio quando é que o sujeito começaria a admitir que toda a sua eloquência para nada servia. Quando o industrial parou de falar, K. pensou por momentos que aquela pausa era propositadamente para lhe dar a oportunidade de confessar que não se encontrava em condições de entabular negociações. E foi com pesar que compreendeu, pelo olhar atento do industrial, que ele estava pronto para qualquer resposta, o que significava que a entrevista continuaria. Desta forma, inclinou a cabeça como se tivesse ouvido uma ordem e começou a mover o lápis lentamente sobre os papéis, parando aqui e ali para olhar para alguns números. O industrial suspeitou que K. procurava falhas no plano, talvez os números fossem meras experiências, talvez não fossem os factores decisivos no negócio, mas, de qualquer modo, passou a mão sobre eles e, chegando-se para junto de K., começou a explicar a política geral por detrás do negócio. «É difícil», disse K., franzindo os lábios, e depois, já que os papéis, as únicos coisas em que se podia apoiar, estavam tapados, apoiou-se molemente ao braço da cadeira. Olhou de soslaio, quando a porta do gabinete do gerente se abriu, surgindo o subgerente, uma figura esfumada que parecia encoberta por uma certa diafaneidade. K. não tentou saber qual a razão desta presença, mas registou simplesmente o efeito imediato, que lhe era muito claro, pois o industrial saltou imediatamente da cadeira e precipitou-se para o subgerente, se bem que K. tivesse desejado que ele fosse dez vezes mais rápido, tanto receava que aquela aparição se desvanecesse. Porém, não havia necessidade de tanto receio, pois os dois homens sorriram, apertaram as mãos e avançaram juntos em direcção à secretária de K. O industrial lamentou que a sua proposta estivesse a ser tão friamente recebida pelo gerente e apontou para K., que, na presença do subgerente, tinha uma vez mais inclinado a cabeça sobre os papéis. Então, quando os dois se encostaram à sua secretária e o industrial se decidiu a conquistar a aprovação do recém-chegado relativamente ao seu plano, K., ao olhar para eles, era como se visse à sua frente dois enormes gigantes discutindo sobre a sua cabeça qualquer coisa a seu respeito.

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pág. 102 (Capítulo 7)

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179