O Processo - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 105 / 183

E era precisamente agora que ele tinha de trabalhar para o Banco? Baixou os olhos para a sua secretária. Era nesta altura que ele tinha de receber e entrevistar clientes e negociar com eles? Enquanto o seu processo se estava a desenrolar, enquanto lá em cima no sótão os funcionários judiciais estavam agarrados aos documentos de acusação, tinha ele de concentrar toda a sua atenção nos assuntos do Banco? Parecia uma espécie de tortura que o próprio tribunal aprovava, nascida do seu processo e a ele ligada. Conceder-lhe-iam algumas atenuantes pela sua posição particular quando o seu trabalho no Banco fosse julgado? Nunca ninguém o faria. A existência do seu processo não era totalmente desconhecida no banco, embora não se soubesse exactamente quem tinha conhecimento dele e até que ponto ia esse conhecimento. Todavia, os rumores não tinham aparentemente chegado aos ouvidos do subgerente, pois, de outra maneira, K. ter-se-ia apercebido logo disso, na medida em que o sujeito, sem quaisquer escrúpulos, se teria aproveitado da situação tanto profissionalmente como do ponto de vista humano. E o director? Certamente, ao ouvir falar da caso, estaria disposto a aliviar o mais possível K. dos seus deveres, sendo, no entanto, as suas boas intenções provavelmente contrariadas, visto que o prestígio cada vez mais fraco de K. já não era suficiente para contrabalançar a influência crescente que o subgerente exercia sobre o director, explorando em seu benefício a invalidez deste último. Desta forma, que esperança poderia ter K.? É provável que K. estivesse apenas a enfraquecer as suas possibilidades de resistência ao acalentar estes pensamentos; contudo, tornava-se necessário não alimentar ilusões e analisar a situação tão claramente quanto o momento o permitia.

Sem qualquer razão especial, mas simplesmente para adiar o retomar do seu trabalho, abriu a janela. Esta estava tão difícil de abrir que ele teve de puxar o fecho com as duas mãos. Uma mistura de nevoeiro e fumo penetrou no gabinete, espalhando-se nele um leve cheiro a fuligem. Entraram também alguns flocos de neve. «Que Outono horrível!», disse atrás de K. a voz do industrial, que regressara da sua entrevista com o subgerente e entrara sem ser notado. K. acenou afirmativamente com a cabeça e lançou um olhar apreensivo à pasta do homem, da qual, não havia dúvida, iria tirar todos os seus papéis para informar K. da maneira como tinham decorrido as negociações.





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