No entanto, o industrial, ao notar o olhar de K., apenas bateu ao de leve com as mãos na pasta, sem a abrir, e disse: «Gostaria que eu lhe contasse como decorreu a entrevista? A decisão final foi absolutamente como eu desejava. O vosso subgerente é uma pessoa encantadora, mas perigosa em contas.» Riu-se e apertou a mão a K, tentando fazê-lo rir também. Todavia, K ficou desconfiado pelo facto de o industrial ao se ter oferecido para lhe mostrar os documentos e não viu razão para se rir. «Herr K», disse o industrial, «o senhor está hoje muito abatido. Parece tão desanimados «Sim» respondeu K., colocando a mão na testa, «é uma dor de cabeça, coisas de família.» «Ali!, sim», volveu o industrial, que era um homem mexido e não conseguia escutar ninguém calado, «todos nós temos os nossos problemas.» K. tinha dado involuntariamente um passo em direcção à porta, como se fosse acompanhar o industrial até à saída. mas este disse: «Herr K., há um pequeno assunto sobre o qual gostaria de lhe falar. Lamento muito, pois este não é o momento oportuno para o incomodar, mas, das últimas duas vezes em que cá vim, esqueci-me de lhe falar dele. Se adio mais uma vez, perderá totalmente o interesse. Seria uma pena, na medida em que a minha informação poderá ser de alguma utilidade para si.» Antes que K. tivesse tempo de responder, o homem aproximou-se mais dele, bateu-lhe ao de leve com um dedo no peito e disse num tom de voz baixo: «O senhor está envolvido num processo, não está?» K. recuou, gritando-lhe: «Foi o subgerente que lhe contou isso?» «De maneira nenhuma>, respondeu o industrial. «Como poderia o subgerente saber alguma coisa a este respeitou «E como é que o senhor sabe?», inquiriu K., recompondo-se. «É que eu colijo algumas informações que me são dadas de vez em quando acerca do tribunal», respondeu o industrial, «e isso explica o que tenho para lhe contar.» «Parece que há muitas pessoas ligadas ao tribunal!», comentou K., com a cabeça inclinada enquanto regressava com o industrial à sua secretária. Sentaram-se como tinham estado anteriormente e o industrial começou a falar: «Infelizmente, não é que tenha muito para lhe dizer, mas, em casos destes, uma pessoa deve tentar tudo para conseguir um fim. Além disso, tenho imensa vontade de o ajudar, ainda que a minha colaboração seja modesta. Até hoje temos sido sempre bons amigos nas nossas relações comerciais, não é verdade? Pois bem.»
