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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 119

Ele não se deixava comover com argumentos, mas, apesar do seu carácter decisivo, não se percebia bem se falara por convicção ou por mera indiferença. K. queria primeiro certificar-se disto e, por isso, disse: «O senhor conhece o tribunal muito melhor do que eu, tenho a certeza, e a respeito dele não conheço mais do que aquilo que ouvi contar às pessoas das mais diversas condições. Contudo, todas elas concordam numa coisa: é que as acusações nunca são feitas frivolamente e o tribunal, uma vez feita uma acusação contra alguém, convence-se em absoluto da culpa do acusado, sendo só à custa de muitas dificuldades que se consegue persuadi-lo do contrário.» «De muitas dificuldades?», gritou o pintor, levantando um dedo no ar. «O tribunal nunca fica persuadido do contrário. Se eu tivesse de pintar todos os juízes numa fila, numa tela, e o senhor tivesse de apresentar o seu caso perante eles, poderia esperar mais sucesso do que perante um verdadeiro tribunal.» «Bem vejo», disse K. para consigo próprio, esquecendo-se de que apenas desejava sondar o pintor.

De novo se ouviu a voz de uma rapariga a chamar por detrás da porta: «Titorelli, ele ainda não se vai embora?» «Calem-se», gritou o pintor por cima do ombro. «Vocês não vêem que estou ocupado com este senhor?» A rapariga, contudo, não se convencendo, perguntou: «Vai pintar o retrato dele?» Como o pintor não respondesse, ela continuou: «Por favor, não pinte um homem assim tão feio.» As outras gritaram em coro numa confusa tagarelice. O pintor deu um pulo até à porta, abriu-a um pouco e disse: «Se vocês não pararem com esse barulho, eu atiro-vos pela escada abaixo. Sentem-se ali nos degraus e fiquem caladas.» Aparentemente, elas não lhe obedeceram imediatamente, pois ele teve de lhes gritar, numa voz de comando: Já para a escada!» Depois disto tudo, ficou sossegado.

«Desculpe-me», pediu o pintor, voltando-se novamente para K. Este mal tinha olhado para a porta, deixando ao pintor a tarefa de o proteger. E mesmo depois mal se mexeu quando o pintor, debruçando-se para ele, lhe segredou ao ouvido de modo que as raparigas lá fora não o pudessem ouvir: «Estas raparigas também pertencem ao tribunal.» «Como?», gritou K., voltando a cabeça para fixar o pintor. Mas Titorelli sentou-se de novo na sua cadeira e explicou, meio a brincar: «Bem vê, tudo pertence ao tribunal.» «Aí está uma coisa em que ainda não tinha reparado», volveu K.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 119

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179